19 de fev. de 2015

Como é Viver num Convento de Clausura


Charlotte Keckler nasceu em 12 de abril de 1889, e morreu em setembro de 1983, aos 94 anos. Morou algum tempo em Boston, Massachusetts. Sua última residência foi em Napa, na Califórnia. O que apresentamos aqui foi transcrito da gravação em áudio de uma das ocasiões em que ela contou o seu testemunho em público.
Cresci em um devoto lar católico romano. Embora nosso lar contivesse muitos itens religiosos, não havia uma Bíblia. Consequentemente, nunca ouvimos sobre o maravilhoso plano de salvação, pela fé no Senhor Jesus. Ninguém nunca me explicou que eu apenas tinha que convidá-lo para entrar no meu coração e pedir que me salvasse de todos os meus pecados, para que nascesse de novo: Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo. Apocalipse 3:20 (NVI)
Em vez disso, o que eu sabia era apenas o que tinham me ensinado nos catecismos e instituições que eu frequentava assiduamente. Eu tinha um profundo amor e devoção a um Deus que eu não conhecia pessoalmente, mas que ansiava em entregar toda a minha vida a ele. De acordo com o ensinamento que eu tinha recebido, para alcançar isso, era preciso me tornar freira e ingressar em um convento. Meu pároco e as freiras que ensinavam na minha escola paroquial incutiram essa ideia em mim. Lembro muito bem do dia em que duas freiras da minha escola paroquial, junto com o sacerdote, acompanharam-me até em casa, para terem uma conversa com meus pais. Na minha família, as crianças não interrompem os mais velhos, mas pedem para falar. Quanto tive permissão para falar, eu só disse isso a meu pai: “Papai, quero ir para o convento”. Meu pai e minha mãe choraram de alegria, pois eles tinham sido doutrinados para crer que dar uma filha para o convento era um grande serviço a Deus.
Eles ficaram emocionados que uma das suas filhas tinha decidido dar a vida ao convento, a fim de rezar pela humanidade perdida. Soava tão emocionante e religioso, mas nenhum de nós tinha ideia do que estava envolvido em tudo isso. Eu e meus pais tínhamos sido manipulados com astúcia por recrutadores cuidadosamente treinados, representantes do sistema da Igreja Católica Romana, em quem confiávamos. Nem por um instante suspeitamos que, por detrás das portas do convento, estão o engano, a mentira e o horror. Nós acreditávamos no que nos ensinaram. Como ovelhas, fomos levados para o matadouro, sem ter consciência do destino que nos tinha sido planejado.

Doze meses se passaram, e 1910 chegou, ano em que eu ia sair de casa. Minha mãe e eu estávamos ocupadas com os preparativos. O sacerdote disse que não tinha vaga para mim perto de casa. Por isso, meus pais tiveram que me levar para uma escola de freiras que ficava bem longe. Tinham se passado três meses do meu aniversário de treze anos. Eu era uma criança imatura, que estava sendo tirada dos meus pais em um momento importante do meu crescimento.
Eu nunca tinha ficado distante dos meus pais, nem mesmo uma noite. Quando eles foram embora, depois de terem ficado comigo por três dias, fui invadida por uma dolorosa solidão e saudade de casa. Durante todo o planejamento da mudança, não percebi que estava prestes a me separar dos meus pais, para nunca mais vê-los novamente. Eu estava me sentindo miserável e infeliz.
Os sacerdotes católicos selecionam crianças no confessionário e começam a plantar nelas a semente para levá-las aos conventos e ao sacerdócio. Quando tinha sete anos, eu ia direto para a imagem da Virgem Maria quando entrava na igreja para rezar, acreditando que ela iria me ajudar a fazer uma boa confissão.
Meu coração de criança era por demais honesto e o sacerdote sempre enfatizava veementemente a necessidade de fazer uma boa confissão. Não podíamos deixar de contar nada se quiséssemos a absolvição dos nossos pecados.
Entrei para a chamada ordem aberta, até receber o véu branco, na idade de dezesseis anos e meio. Tudo era lindo, e eu não tinha medo ou dúvidas na minha mente. As coisas que me ensinavam estavam de acordo com o que me tinham dito antes de entrar no convento. Não havia nenhum motivo para suspeitar que havia muitas áreas ocultas que tinham sido intencionalmente distorcidas.
Pouco tempo depois de ter entrado para o convento, retomei os meus estudos. Eu tinha recém concluído o ensino fundamental, e eles prometeram que eu iria ingressar no ensino médio e na faculdade. Mas não foi assim. A dura e dificultosa educação que recebi não foi muito além do ensino médio e da preparação para ser freira. Fui posta no crucial treinamento requerido a todas as noviciadas que ingressavam no convento.
Seis meses antes de completar catorze anos, a Madre Superiora começou a me incentivar a receber o véu branco. Ela fez aquilo parecer tão glamouroso, romântico e fascinante: usando um lindo vestido de noiva, eu receberia o véu. Uma verdadeira cerimônia de casamento estaria acontecendo. Eu receberia uma aliança e me tornaria a noiva de Cristo. Não era difícil uma adolescente impressionável concordar com aquilo.
A Madre Superiora então escreveu ao meu pai, dizendo a quantia em dinheiro que ele deveria mandar para a compra do meu vestido de noiva. Apesar de ele ser rico, era uma quantia considerável. Fiquei sabendo mais tarde que era costume pedir de três a cinco vezes a mais o valor do vestido. As freiras compraram o material e fizeram elas próprias a vestimenta, para que o custo fosse reduzido e o resto do dinheiro fosse embolsado. Nenhuma oportunidade de arrecadar dinheiro dos fieis era perdida.
Eu era sempre devota e percorria com frequência as catorze estações da via crucis. Depois que decidi receber o véu branco, minha fervorosidade aumentou. Na minha ânsia de ser santa o bastante para ser digna de me tornar a noiva de Cristo, comecei a percorrer, engatinhando, as estações da via crucis, toda sexta-feira. É claro que eu pensava que isso me aproximaria mais de Deus e me prepararia para atingir os objetivos que tinha planejado.
Meu coração estava sendo invadido com a ingênua certeza de que as falsas metas que tinham me ensinado iria agradar e honrar a Deus em minha vida. Ano a ano, centenas de meninas inocentes caem nessa conversa, todas com um brilho no olhar e um desejo de dar seu coração, mente e alma em favor de uma causa nobre, e orar pela humanidade perdida.
Na cerimônia de casamento, as freiras são tratadas como mulheres casadas. Éramos ensinadas que nossa família seria salva se continuássemos a viver no convento, servindo ao sistema católico romano. A preocupação das crianças com seus familiares, especialmente com os errantes, é geralmente usada pelos padres confessores como pretexto para convencê-las a entrar na vida religiosa. Quando criança, eu enxergava meu padre confessor como sendo Deus, e outros com quem conversava faziam o mesmo. Isso dava a ele um tremendo ar de poder e influência. Eu pensava que ele era santo e infalível, totalmente incapaz de mentir.
Após ter recebido o véu branco, tudo continuava o mesmo: encantador, religioso e bonito. Todos eram bons para mim. Enquanto fiquei na ordem aberta, não vi nada que me fizesse acreditar que as coisas mudariam. Nenhuma jovem tem contato com o sacerdote antes dos vinte e um anos, mas eu não sabia de nada disso porque tudo era cuidadosamente escondido e encoberto. Não havia nenhuma pista que fizesse alguém suspeitar do que está por trás do manto negro e das portas trancadas daquele convento de clausura.
Depois de começar a usar o véu preto, foi-me permitido receber uma carta por mês da minha família, assim como mandar uma para eles. Eu sabia que muito do que escrevia era censurado pela Madre Superiora, que lia todas as correspondências que chegavam e eram enviadas. As cartas que chegavam de casa para mim sempre continham trechos apagados com tinta, que não sobrava praticamente quase nada para ler. Eu chorava e ficava preocupada quando via todos aqueles trechos apagados, tentando adivinhar o que minha mãe estava querendo me dizer, porém não tinha mais como saber.
Ninguém que está preso dentro daqueles muros pode sair para contar o lado horrível da história. Os sacerdotes vão dizer veementemente que isso não passa de bobagem. Vão dizer que em qualquer lugar deste mundo as irmãs podem sair do convento quando quiserem. Isso é mentira! Eu fiquei de boca fechada por vinte e dois anos e tentei de tudo para escapar. Cheguei ao ponto de levar colheres para os porões e cavar desesperadamente naquele chão sujo, tentando achar uma saída. Por que uma colher?
Porque todas as outras ferramentas são escondidas ou cuidadosamente supervisionadas. Elas são usadas para cavar os túneis e as câmaras subterrâneas. Os conventos são construídos da mesma forma que as prisões, para impedir que as freiras escapem.
Nós éramos constantemente ensinados que nossos entes amados, tanto os vivos quanto os que estão no purgatório, seriam logo resgatados por causa do sofrimento das freiras neste mundo. A Madre Superiora tinha observado que eu estava disposta a sofrer sem murmurar ou reclamar, por isso ela teve a ideia de que eu recebesse o véu preto. É claro que eu não tinha a menor ideia do que faziam ou como viviam as freiras de clausura, então ela começou a me falar sobre este assunto.
A Madre Superiora me disse que, na clausura, eu teria que dar meu próprio sangue, assim como Jesus fez no Calvário. Eu teria de estar disposta a suportar duras penitências e a viver em extrema pobreza o resto da minha vida. Eu já estava vivendo na pobreza, mas se tudo isso me tornasse mais santa, fizesse eu me aproximar mais de Deus e ser uma freira aperfeiçoada, eu pensava que valeria a pena aceitar esta inevitável pobreza, seja como fosse.
Dois meses antes do meu 21° aniversário, fui chamada no escritório da Madre Superiora, onde papéis me foram mostrados, os quais diziam que eu deixaria toda a minha herança para o sistema católico romano. Os sacerdotes trabalham duro a fim de atrair para os conventos garotas de famílias de classe alta, pois o sistema será enriquecido com a herança delas. Eu disse à Madre Superiora que precisava de mais tempo para pensar sobre o assunto […] Um dia, informei a ela que tinha decidido ingressar na clausura.
Para começar, tive que ficar nove horas deitada em um caixão, com vistas a morrer para o mundo. Agora que estava confinada na clausura, eu nunca mais veria meus parentes, nem voltaria para casa. Desistir de tudo que amava no mundo era um preço muito caro a ser pago por uma garota de vinte e um anos, mas que tinha de ser feito, para que almas fossem ganhas para Deus. Eu estava usando um vestido de veludo vermelho escuro para a cerimônia de casamento, que foi realizada pelo bispo. Tanto o vestido quanto o caixão tinham sido feitos pelas freiras de clausura.
Eu sabia que, quando saísse daquele caixão, nunca mais veria ou teria alguma notícia da minha família; que nunca deixaria o convento; e que seria enterrada lá quando morresse. Caminhei em direção ao caixão, e entrei nele. Duas freiras cobriram todo o caixão com tecidos pretos cheirando a incenso. Pensei que certamente eu ficaria sufocada. De um lado da sala, estavam as costumeiras imagens, e, do outro, sentados, a Madre Superiora, as freiras e os sacerdotes. Fiquei deitada nove longas horas no caixão. Durante esse tempo, eles ficaram cantando e me vigiando constantemente.
O único propósito de ficar no caixão era para aprender a odiar minha mãe, meu pai e todos os laços terrenos – tudo por amor a Deus. Eu deveria esquecê-los, odiá-los, eliminá-los completamente da minha vida, do meu coração e mente. Tudo isso era para me capacitar a ser uma melhor esposa para Deus.
Deitada lá, lembrei da minha infância em casa. Lembrei dos vestidos que minha mãe tinha feito para mim, mas que eu nunca mais voltaria a usá-los. Pensei nas comidas deliciosas, nas camas aconchegantes e em tudo que tinha tido numa vida familiar rica e abundante. É claro que eu chorei e pranteei amargamente quando meu coração doeu pelos entes queridos que eu jamais voltaria a ver. Foi uma experiência angustiante, pois acho que eu nunca tinha amado eles daquele jeito.
Deixei sair todas as lágrimas que havia em meu corpo. Era tão difícil desistir de tudo. Na minha angústia e aflição, estremeci e gemi até não haver mais lágrimas para rolar. Depois de muitas horas nesta situação, recuperei um pouco da minha compostura. Disse a mim mesma: “Charlotte, você vai ser a melhor Carmelita que já houve, pois tanto fora quanto dentro do convento você sempre fez o seu melhor.”
Quando a prova finalmente acabou, ouviu-se um sino e duas freiras imediatamente tiraram as cortinas pretas de cima do caixão. Quando saí dele, fui conduzida para uma sala, onde tive que fazer os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. A Madre Superiora fez um furo na minha orelha e tirou sangue, pois eu tinha que assinar com o meu próprio sangue. Jurei estar disposta a viver em extrema pobreza para equilibrar a minha vida, embora eu não soubesse o que isso significava. Em seguida, fiz o voto de castidade, pelo qual eu seria obrigada a nunca me casar, já que agora eu era a esposa de Deus, em virtude da cerimônia de casamento realizada antes. E então veio o mais rígido de todos: o voto da obediência. Prometi obediência absoluta e inquestionável ao Papa, a todos os prelados da hierarquia do catolicismo romano, à Madre Superiora e a todas as regras do convento. Eu era totalmente ignorante sobre quão amplas eram essas promessas e não fazia a menor ideia das coisas às quais estava me submetendo.
Após eu ter assinado os votos, a Madre Superiora cortou todo o meu longo cabelo com uma tesoura. Ele seria vendido para quem pagasse mais, pois o cabelo humano custa caro. Eles comercializam tudo. Isso explica a inacreditável fortuna da igreja. Depois de cortar meu cabelo, ela pegou uma tosquiadeira e me deixou careca. A cada dois meses, pelo resto da minha vida, a tosquiadeira passaria pela minha cabeça, a fim de me deixar careca. A pesada cobertura da cabeça das freiras incomoda bastante se elas não cortam o cabelo. Além disso, não havia tempo nem condições de lavar o cabelo nos conventos.
O próximo passo para me alienar e confundir foi o abandono do meu nome completo de família e a sua substituição pelo nome de uma santa padroeira. A Madre Superiora salientou que, embora eu não fosse santa o bastante para estar na presença de Deus, eu poderia sempre rezar para a minha santa padroeira, que ela intercederia por mim e levaria as minhas orações até Deus. Aceitei tudo isso como verdade porque não conhecia nada melhor. Depois disso, se alguém no convento perguntasse por mim pelo meu verdadeiro nome, eles responderiam que não havia ninguém ali com aquele nome.
A seguir, a madre leu esta declaração: “Assim como Jesus sofreu aqui na terra, nós, como freiras, também temos de sofrer. Devemos viver como mártires no convento. No Monte das Oliveiras, Jesus chorou 62.700 lágrimas por você e eu. Ele derramou 98.600 gotas de sangue por você e eu. Ele recebeu 667 golpes em seu corpo, 110 no rosto, 107 no pescoço, 180 nas costas, 77 no peito, 108 na cabeça e 32 no lado. Cuspiram 32 vezes no seu rosto, puxaram a sua barba muitas vezes e o jogaram 38 vezes no chão. Por causa da coroa de espinhos, Jesus teve 100 ferimentos. Ele rogou 900 vezes pela nossa salvação e percorreu 320 degraus para carregar a cruz até o Calvário.” Eu acreditava em todas essas mentiras religiosas, que anos depois descobri terem sido inventadas por um Papa corrompido.
A última declaração que ela leu dizia: “Você receberá plena indulgência pelos seus pecados e escapará totalmente dos sofrimentos do purgatório. Será recompensada como os mártires que derramaram seu sangue pela fé.” Ela disse que, se vivêssemos no convento sem violar uma regra, não iríamos para o purgatório ao morrer, mas iríamos diretamente para estar com Jesus. O que ela não nos disse é que é humanamente impossível viver em um convento sem violar as regras.
Depois que os votos foram assinados, todas as minhas identificações pessoais foram destruídas. Sessenta dias antes, a Madre Superiora tinha posto uma folha de papel diante de mim. Ela disse que não era para eu ler, apenas assinar no fim da página. Não me dei conta de que, assinando aquilo, eu estava cedendo toda a herança que viria a ter. Agora ela pertencia legalmente ao convento. Quando meu irmão foi ordenado sacerdote, ele também assinou um documento semelhante, deixando tudo para a hierarquia do catolicismo romano. Não existe advogado nesta terra que possa revogar essa confiscação, pois eu já investiguei isso.
Quando fiz os votos perpétuos, cedendo minha vida e minhas posses, eu tinha vendido minha alma a preço de banana. Não é só no corpo que as freiras são sistematicamente destruídas, mas centenas delas têm suas mentes abaladas e morrem prematuramente debaixo da cruel e melancólica escravidão do convento. Devemos orar em favor dessas isoladas do mundo e do evangelho, presas em terríveis cadeias espalhadas pelo mundo, chamadas conventos de clausura.
A Madre Superiora depois deu uma chave de braço em mim, e nós descemos até uma outra sala. Um sacerdote católico romano, que estava no fim da sala, vestido como de costume, veio ao nosso encontro. A madre me soltou. O sacerdote deu alguns passos e quis me agarrar. Recuei, horrorizada, pois em todos os meus anos no convento nunca um sacerdote sequer tinha se aproximado de mim. Eles sempre tinham sido gentis, atenciosos e muito educados. Alguma coisa na maneira de ele me tocar e o seu olhar lascivo me insultaram e causaram-me repulsa, embora eu não soubesse exatamente o porquê. Acanhada pela situação, dei um empurrão nele e explodi: “Tenha vergonha!” Senti-me desonrada e ameaçada. O rosto dele se avermelhou e ele ficou muito bravo por eu ter rejeitado sua proposta de me levar para a “câmara nupcial”.
É claro que a Madre Superiora estava ouvindo aquilo, pois ela voltou rápido, chamou-me pelo meu nome do convento e disse que depois de algum tempo eu não me sentiria mais assim. Ela disse que, no começo, todas as freiras se sentem daquele jeito e rispidamente me lembrou da cerimônia de casamento pela qual eu tinha passado, bem como da minha obrigação. Ela disse que o corpo de um sacerdote é santificado, e o que eles fazem não é pecado. Fiquei aterrorizada e chorei histericamente. Minha mente estava confusa, e me recusei a aceitar o que ela disse.
Ela ficou muito brava e disse friamente: “Assim como o Espírito Santo pôs a semente no útero da Virgem Maria e Jesus Cristo nasceu, o sacerdote representa o Espírito Santo, então não é pecado as freiras terem filhos.” Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Eu já tinha decidido e agora era tarde demais para voltar atrás! Aquela afirmação medonha me deixou fora de si. Quando ela finalmente me deu permissão para falar, explodi: “Madre Superiora, por que não me contou sobre isso antes dos meus votos perpétuos?” Ela franziu firmemente os lábios, mas não disse nada.
Não é necessário dizer que eu estava estarrecida e em estado de choque e horror com o que ela estava dizendo. Parecia um pesadelo inacreditável. Não tinha como voltar atrás. Eu não podia sair do convento. Chorei histericamente e disse ao sacerdote que queria ir para casa. Implorei a ele que chamasse meu pai para vir me buscar. Não quero falar muito sobre isso. Todas as minhas ilusões tinham sido destruídas e não posso conceder a imagem que estava passando diante de mim.
Contei a eles que, três meses antes de sair de casa para ir ao convento, aos 13 anos, minha mãe me disse que preferiria cavar minha sepultura com as próprias mãos e me enterrar do que ouvir dizer que eu tinha perdido a minha virgindade. Como eu não conhecia nada sobre sexo, então ela me explicou. Quando contei isso ao sacerdote e à Madre Superiora, eles riram de mim como tolos. Eles acharam graça da minha ingenuidade e inocência.
Quando se tem contato com esse tipo de coisa, posso dizer que você está absolutamente sozinho. A comunicação com amigos e entes queridos já foi cortada. Isolado, você não tem ninguém para te ajudar, nem com quem contar. Logo você começa a entender a total falta de esperança da sua situação. É como acordar e descobrir que um terrível pesadelo não é sonho, mas uma espantosa realidade. Eu agora pertencia a Roma e ao Papa, e a Madre Superiora tinha me entregado para um sacerdote lascivo que ainda por cima tinha me convidado para ficar com ele na “câmara nupcial”. Eu não entrei no convento para me tornar má, mas uma mulher santa, dando meu coração e minha vida para Deus.
Rejeitei firmemente ter contato sexual com ele e eu era forte o bastante para uma luta, caso ele tivesse insistido. A fim de preservar a minha virgindade, eu estava preparada para lutar até derramar a minha última gota de sangue.
Quando assinei aqueles votos com o meu próprio sangue, não percebi a monstruosidade do que tinha feito. Eu tinha aberto mão de todos os direitos humanos, para me tornar um robô em forma de gente. Dali em diante, eu não poderia sentar, ficar em pé ou falar sem permissão. Eu não poderia me deitar, comer ou fazer qualquer coisa, a não ser que fosse autorizada pelos meus superiores. Eu tinha permissão para ver, ouvir e sentir apenas o que eles queriam e ordenavam. Eu tinha me tornado uma marionete da hierarquia do catolicismo romano.
A etapa seguinte foi a minha iniciação e, para isso, eu tinha que ir ao convento que me designaram. Eles tinham o meu passaporte todo assinado e as passagens compradas, para me mandar de navio a um país estrangeiro. Dois sacerdotes nos encontraram no navio, e fomos levadas para as montanhas, com o rosto coberto por um grosso véu, para sermos postas no piso subterrâneo de um convento de clausura. É claro que, quando o sacerdote se sentava na sala de estar da nossa casa, ele nunca disse ao meu pai que eu viveria por anos em pisos subterrâneos de uma terra estrangeira.
No novo convento, submeti-me às penitências das iniciantes. Depois de três ou quatro dias, cerca de 09h00 da manhã, a Madre Superiora disse para a acompanhar. Ela falou que iríamos fazer penitência, e que eu começaria a minha iniciação de freira Carmelita. Lembro quando ela me conduziu por um túnel escuro, até uma sala que ficava no piso inferior. Eu sempre tinha morado no primeiro piso, mas, depois de receber o véu preto, morei no primeiro e no segundo nível dos pisos subterrâneos. Quando entramos naquela sala fria e escura, estava difícil de enxergar, pois a luz que ali estava vinha de sete velas. Eu estava assustada e apreensiva, não sabendo o que esperar, nem o que ela tinha planejado para mim.
À medida que caminhávamos, pude enxergar uma freira deitada em uma tábua de quase dois metros de comprimento, uma tábua fria. Percebi, chocada, que ela estava morta. Embora eu não estivesse com medo da freira morta, meu coração se compadeceu dela. Quando assinei os votos perpétuos, eu tinha inconscientemente aberto mão de todos os direitos humanos. Eu não podia ver, ouvir, reclamar, sentir nem murmurar. Eu tinha ouvidos, mas não me era permitido ouvir. Tinha olhos, mas não podia ver.
Tinha sentimentos, mas logo seria obrigada a abafá-los. Quando estava olhando o corpo, muitos pensamentos e perguntas vieram à minha mente, mas eu tinha que ficar em silêncio. “Como e por que ela morreu?” Antes de sair, a Madre Superiora ordenou que eu ficasse vigiando o corpo, em pé, por uma hora. Ela mandou que, de vez em quando, eu jogasse cinza e água benta no corpo, e repetisse “Paz esteja contigo”. Depois de uma hora, ouvir-se-ia o barulho de um sino e, da escuridão misteriosa atrás de mim, uma outra freira viria para me ajudar. Tendo em vista que ela viria descalça naquele chão sujo, nenhum barulho seria ouvido. Éramos proibidas de falar, por isso, quando chegou, ela estendeu a mão e tocou no meu ombro. Pulei de medo e comecei a gritar histericamente, com toda a minha voz.
Este deslize significava que eu deveria ser punida, sendo jogada em uma masmorra escura e suja. Lá, eu ficaria por três dias e três noites, sem comida e água, só porque eu tinha cometido um crime terrível – gritar de medo. Posso garantir que nunca mais gritei outra vez. No convento, você aprende bem rápido a obedecer às regras. No quarto dia, a Madre Superiora me disse que nós iríamos fazer penitência outra vez, indo para outra câmara escura nos subterrâneos do convento. Começamos a caminhar pelos túneis (havia mais de 50 quilômetros de túneis debaixo daquele convento) e, fora as velas, não havia nenhuma luz nas salas por onde passávamos. Ela me conduziu para dentro de uma ampla sala de penitência. Entramos devagar, olhando para baixo.
Na pálida luz da vela, vi naquela sala as costumeiras imagens de Jesus e Maria. Ao lado, no chão, havia uma enorme cruz de mais de dois metros de altura, feita de uma madeira dura e pesada. Ela me despiu até a cintura, deitou-me naquela cruz e depois me amarrou bem nela. Era daquele jeito que eu começaria a derramar o meu sangue, assim como Jesus derramou o seu no Calvário. Eles me disseram que eu derramaria o meu sangue pela humanidade perdida, mas nunca me informaram sobre como isto seria feito. Agora eu iria aprender uma das muitas maneiras como isto acontece. Havia ali duas outras freiras com um chicote, feito com seis tiras de couro amarradas a um cabo de madeira. Na ponta de cada tira, foram colocados pedaços de metal afiado. Elas começaram a me açoitar metodicamente com esses instrumentos cruéis, até minha carne ficar profundamente dilacerada com centenas de cortes, e o meu sangue se espalhar por todo o chão.
Amarrada do que jeito que estava, não tinha como escapar dos cruéis e dilacerantes golpes daqueles implacáveis chicotes. Permita-me dizer que elas fizeram um trabalho perfeito em mim, pois eu estava ardendo de agonia e com uma dor horrível. Gritos e gemidos não as faziam parar, e nem elas se comoviam com meus lamentos de misericórdia. Elas eram bem treinadas e completamente sem coração. Eu estava mergulhada em um mar de dor e terrível desespero. Era inacreditável, mas estava acontecendo. Pensei que as chicotadas nunca fossem parar. Eu estava impotente e completamente sem defesas.
A Madre Superiora me desamarrou, e eu tombei, gemendo. Por ora, ela achava que eu tinha derramado sangue o bastante. Ela jogou medicamentos aos meus pés, mas não me lavou nem tratou os inúmeros ferimentos que estavam sangrando no meu corpo. Ela simplesmente puxou minhas roupas de volta, e eu fui forçada a trabalhar o dia todo, até às 21h15. Não é preciso dizer que passei aquele dia em agonia, mas ninguém parecia notar. Percebi, com repugnância e horror, o significado dos ensinamentos que eu tinha recebido, ou seja, de que Deus se alegrava com aquela penitência e com outros sofrimentos. Aquilo era para nos tornar mais santos.
Aquele dia foi um verdadeiro inferno para mim. Mas aquilo foi só o começo de centenas de dias como aquele. Quando a noite chegava, eu ficava em pé defronte à minha cela, onde tínhamos de permanecer com a vestimenta de freira, de costas umas para as outras. Eu não podia tirar a minha roupa, que estava suja de sangue seco, e grudada nos meus ferimentos. Só depois de várias noites eu pude tirar a roupa. Foi um processo agonizante e sangrento. Na hora das refeições, eu não tinha fome, em virtude da terrível dor que estava sofrendo.
Geralmente, eu tirava a roupa, botava uma camisola muçulmana e então entrava na minha cela, para ser trancada durante a noite. Apenas uma placa de madeira nos servia de cama – nada de colchão, travesseiro e cobertor. Antes de nos deixarem deitar, tínhamos de nos ajoelhar e fazer penitência em uma tábua de reza forrada com arame farpado, que perfuravam os joelhos. A parte superior, onde nos prostrávamos com o rosto em terra, era também cheia de arame farpado.
Um outro dia, a Madre Superiora me conduziu por um túnel longo e escuro, para a minha próxima penitência. Entramos em uma câmara. De novo, havia sete velas. Quando estávamos passando por entre as velas, vi algumas cordas penduradas no teto, com braçadeiras amarradas na ponta. Ela me fez chegar bem perto, com o rosto na parede, e estender os braços. Rapidamente, ela agarrou as bandas de metal e as prendeu com força em volta de cada polegar meu. Então ela deu um passo para o lado, começou a girar a manivela que levantava as cordas, e eu lentamente fui suspendida, até ficar só com a ponta dos dedos dos pés tocando o chão. Quando eu estava suspensa, ela amarrou o cabo, saiu sem dizer uma palavra, bateu e trancou a porta. O peso do meu corpo nos polegares e na ponta dos dedos foi torturante. Eu já estava gemendo e choramingando de dor. Eu não tinha ideia de quanto tempo ficaria lá. Em uma situação como aquela, você fica se perguntando se vai morrer antes de eles voltarem para te soltar. Com aquela dor insuportável abalando a mente e o corpo, a morte seria um abençoado escape.
Quando as horas se estendem interminavelmente em dias e noites, não há como calcular por quanto tempo você fica lá. Não há luz do sol e nem barulho, a não ser os seus gritos e gemidos. Era como estar sendo enterrado vivo, sem comida e sem água. O tormento e o delírio te fazem perder a percepção da realidade, e nada parece real, exceto a tortura e a dor, que estão sempre presentes.
Esta era uma outra técnica da lavagem cerebral que eles fazem. Eu não podia fazer nada além de ficar ali, gritando e chorando. Ninguém podia me ouvir nem ajudar, e nem sequer se importava. Três, quatro, seis e finalmente dez horas de agonia se passaram. Cada osso, cada músculo e cada nervo do meu corpo torturado estava implorando por socorro. É impossível descrever aquela dor insuportável e enlouquecedora. E a fome e a sede aumentavam cada vez mais. Quando minhas mãos e meus braços começaram a ficar muito inchados, eu pensei que iria morrer. No meu desespero, eu tinha rezado para todas as imagens daquela sala. No final das contas, percebi que a Virgem Maria não estava ouvindo nenhuma palavra que eu estava choramingando. Comecei a gritar histericamente, implorando a ajuda da minha santa padroeira, de São Judas, São Bartolomeu e de todos os outros ídolos e santos que conseguia me lembrar. Eu estava rodeada por um silêncio sobrenatural, que era quebrado apenas pelos meus gritos e gemidos, e pela faísca das velas.
Lá estava eu, pendurada, cheia de dores e toda suja de excrementos, pois naquele regime de tortura não há intervalo nem para ir ao banheiro. Exatamente quando eu estava sentindo que ia ficar completamente louca, a Madre Superiora apareceu. Na parede à minha frente, estava uma prateleira adaptável, que ela
levantou até a altura do meu rosto. Ela pôs ali uma panela com água e uma outra panela, contendo uma pequena batata. Eu estava morrendo de sede e fome, mas como iria pegar aquilo? Em meio às dores, arrastei-me na ponta dos pés, inclinando um braço, e depois o outro, para alcançar as panelas. Quando pretendi pegá-las, senti uma dor terrível nos meus pulmões. Na verdade, muitas freiras contraem tuberculose, após passarem por esta tortura. Entretanto, só depois de muita dor e esforço eu consegui pegar aquela água e aquela comida. Mesmo assim, deixei cair grande parte dela.
Nove dias depois, a Madre Superiora veio e soltou primeiro um polegar, depois o outro, e eu tombei no chão. Meus lábios estavam inchados e ardiam de dor. Eu sentia meus olhos como se estivessem sendo arrancados da cabeça, e meus braços estavam três vezes maiores do tamanho normal, de tão inchados. Nenhuma parte do meu corpo ficou livre das dores advindas do tombo que levei. É claro que eu não conseguia me mexer. Duas freiras me carregaram, balbuciando palavras desconexas, para a enfermaria, e me puseram em uma placa de madeira. Elas cortaram toda a minha roupa, pois eu já estava saturada com a minha própria urina e fezes. Esta era uma outra etapa do bem planejado programa de brutalização e desumanização, desenvolvido para produzir robôs incapazes de raciocinar. Depois desse episódio, fiquei sem poder andar por dois meses e meio, e ficaria feliz se morresse.
Certo dia, fui chamada, e mais uma vez caminhei por aqueles túneis horrorosos, sem saber o sofrimento e a dor com que me depararia. A Madre Superiora me conduziu para dentro de uma sala, onde havia uma cadeira de assento curto, e encosto alto. Com um empurrão, ela me sentou na cadeira, tirou minha touca, inclinou minha cabeça para frente e pôs minhas mãos nos meus joelhos. Ela rapidamente amarrou meus pulsos, para que eu não me mexesse, e me imobilizou na cadeira. Em seguida, posicionou uma torneira acima da minha cabeça careca, e ajustou de forma que caísse uma gota de cada vez.
Encolhi de medo, já antecipando o que viria, pois eu tinha visto outras freiras que foram submetidas àquilo por dez longas horas. Depois de pouco tempo, as gotas caindo no mesmo lugar acabam por desconcertar o mais forte dos seres humanos. Geralmente, eu e outras freiras nos contorcíamos todas, tentando desesperadamente escapar daqueles pingos d’água, chegando até mesmo a espumar pela boca. Gritos e choros sempre estão presentes naqueles buracos horrorosos, situados nos subterrâneos, onde ninguém que tenha um mínimo de humanidade e compaixão pode ouvir. Pedidos de misericórdia somente trazem penas piores e mais demoradas. Muitas freiras ficaram completamente insanas depois de terem sido submetidas várias vezes a essa pena. Não se preocupem, o convento também cuida delas. O mundo lá fora nunca vai saber a verdade. Há masmorras subterrâneas para aquelas que têm transtornos mentais e nervosos. Haverá relatórios e registros da freira e de como ela morreu, todos mentirosos.
Vocês devem ter em mente que toda a estrutura deste sistema religioso é baseada em mentiras e decepções, e que o disfarce hipócrita de retidão deve ser mantido a todo custo, mesmo que isso envolva vidas humanas. Eles farão de tudo para proteger o sistema. Calúnias, mentiras, falsos testemunhos, alteração e destruição de documentos, injúria e até mesmo assassinato são procedimentos permitidos e adotados. Uma pessoa em sã consciência vai logo perceber a artimanha desumana, diabólica e extremamente complexa que dirige esta religião monstruosa.
Certa vez, fui levada a uma daquelas masmorras imundas, com os tornozelos amarrados. Eu estava em pé, quando perdi as forças e caí, machucando meu tórax. Depois de atingir um certo estágio de dor e exaustão, não há nada que você possa fazer. Eu deveria ficar ali por dois ou três dias, conforme a vontade dos meus torturadores. Ninguém vai vir. Não há comida, água nem idas ao banheiro. Besouros andavam pelo meu corpo. É claro que o meu choro de horror não estava sendo ouvido por ninguém.
A solidão no convento é desumana e cruel, pois não se tem amigos lá. Todo mundo é incentivado a vigiar todo mundo, e a menor infração às regras acarreta punições duras e instantâneas. Não havia amizade entre as freiras. Desconfiança e isolamento eram a ordem do dia da vida no convento. Através de uma isolação sistemática e metódica, éramos ensinadas a não confiar e a não depender de ninguém. Nunca podíamos nos unir para protestar contra aquelas condições.
Os comunistas adotaram um programa similar nos campos de prisioneiros de guerra na Coreia, a fim de prevenir qualquer contato ou cooperação entre os presos. Cada freira é ensinada a ser uma sentinela, para vigiar e denunciar as outras. Denúncias de traição deixavam a informante em boa posição com a Madre Superiora. A aprovação dela era tão desejada pelas irmãs que geralmente elas inventavam e exageravam, a fim de obter este tipo de favor. Obediência absoluta em tudo é exigida no convento, e você aprende bem rápido a obedecer sem questionar.
Cada vez que entrava na minha cela, eu tinha de me ajoelhar e rezar pela humanidade perdida, enquanto sofria e derramava mais do meu sangue. Só depois de ter feito isso é que eu podia deitar na placa de madeira que me servia de cama. Exatamente sete minutos antes da meia noite, um sino era tocado, e as celas eram abertas, para que todas nós nos reuníssemos na capela, a fim de rezar até à 01h00 da manhã pela humanidade perdida. Depois, voltávamos para nossas celas, e éramos trancadas até às 04h30 da manhã, quando um sino era tocado. Nós tínhamos exatamente cinco minutos para nos vestir e nos apresentar, descalças, para as nossas obrigações. Esta era uma rotina diária. Atrasos na hora de se vestir acarretavam penas severas.
Toda noite, às 20h00, tínhamos que descer por uma galeria longa e escura, para fazer penitência na sala de meditação. Lá, havia uma minúscula sala, de cerca de 1,20m2 , que continha, sobre uma pequena mesa, um crânio humano e uma vela. Tínhamos de dobrar os joelhos, fixar os olhos naquela caveira e meditar durante uma hora sobre a morte. Quanto este tempo findava, um sino era tocado, e voltávamos para as nossas celas, onde tirávamos toda a roupa. Então, pegávamos três correntes entrelaçadas de pontas pontiagudas, que ficavam penduradas nas nossas celas, e começávamos a dar chicotadas no nosso próprio corpo, imitando as chicotadas de Cristo na terra.
Às vezes, por causa da falta de força e comida, era difícil dar muitas chicotadas. Se a Madre Superiora suspeitasse disso, ela ordenava que nós nos despíssemos, e que duas outras freiras nos açoitassem cruelmente. Depois disso, durante dias você não tem nenhuma vontade de tomar o seu café, comer o seu pão, ou fazer qualquer outra coisa, tendo em vista o sofrimento em que você está.
Esta era a vida no convento de clausura. Lá, é usado o cruel sistema da lavagem cerebral, assim como a Rússia faz nos campos de concentração. A brutalidade é exatamente a mesma, mas Roma estende a bandeira da religiosidade, ao passo que a Rússia, onde impera o comunismo, é abertamente ateísta. No refeitório onde nos alimentávamos, havia duas longas mesas de madeira, e cada freira tinha um lugar designado para sentar. Ninguém, jamais, sentava no lugar da outra. No café da manhã, ganhávamos apenas um copo grande e fino de café preto forte, com um pedaço de pão preto, que pesava exatamente 115 gramas. Embora trabalhássemos duro o dia todo, não havia almoço, e, por volta das 17h00, nos reuníamos outra vez no refeitório, isso se conseguíssemos caminhar com nossas próprias forças. Para a janta, vegetais frescos eram cozidos juntos, resultando em uma sopa aguada e sem gosto, que não tinha nenhum tipo de tempero. Isto era servido em um prato de alumínio, junto com 60 gramas de pão preto e um copo de lata, com café preto. Duas ou três vezes por semana, ganhávamos meio copo de leite. Esta era a nossa monótona dieta, nos 365 dias do ano. A única exceção era no dia de natal, quando cada uma de nós ganhava uma colher de melado. Aquilo era um deleite! Comíamos bem devagar, saboreando cada gota. Esperávamos por este banquete o ano todo. Por causa das limitadas porções de comida, durante os 365 dias do ano, sempre íamos para a cama com o estômago doendo de fome. Por anos, eu me virava de um lado para o outro à noite, incapaz de dormir, e me perguntando até quando aguentaria aquele tormento contínuo. Eu garanto que é um sofrimento total viver sempre com fome. É claro que pessoas famintas, por serem mais fracas, podem ser facilmente coagidas e forçadas a todo tipo de obediência e servilismo degradante. Isto era posto em prática com um prazer diabólico, e tinha o propósito de abalar o espírito humano. Por causa de uma dieta horrivelmente restrita, da tortura, derramamento de sangue e de longas e duras horas de penitência, é bastante comum que os corpos desfaleçam, adoeçam e que freiras morram jovens nos conventos de clausura. Lembrem que há conventos de clausura nos Estados Unidos.
Na preparação das verduras, as batatas são cozidas com cascas e descascadas só depois de cozidas. Certa vez, quando fazia os serviços de cozinha, eu estava ajuntando uma pilha dessas cascas de batata, para por no lixo. Eu estava com tanta fome que rapidamente tirei duas mãos cheias da lata de lixo, e escondi na minha roupa. Não contei a ninguém, uma vez que, no convento, todo mundo observa todo mundo, e há informantes por toda a parte, que denunciam os outros. Naquela noite, na minha cela, devorei as cascas de batata, pois estava faminta.  Na manhã seguinte, às 09h00 em ponto, a Madre Superiora anunciou, com um sorriso forçado, que eu iria fazer penitência. Eu sabia que aquela não era a hora de fazer penitência. Com o coração aflito, fui com ela até uma das câmaras de tortura. Era uma sala enorme, com as sete velas usuais. Quanto ela tocou um sino, duas freiras apareceram, e rapidamente amarraram minhas mãos nos meus pés. A madre então ordenou que uma delas tapasse o meu nariz, para que eu fosse forçada a abrir a boca para respirar. Ela então pôs uma colher cheia de pimenta vermelha na minha boca, e eu tive que engolir, para poder respirar. Por dois dias, fiquei com urticárias por todo o corpo, que coçavam e queimavam. Isto por ter comido um pouco de lixo!
Numa outra ocasião, vi um pedaço de pão em cima de uma mesa. Durante vários dias, fiquei observando. Finalmente, peguei o pão e comi na minha cela. Na manhã seguinte, a Madre Superiora disse que iríamos fazer penitência outra vez. De alguma forma, ela tinha descoberto sobre o pedaço de pão. Dessa vez, fui levada para uma sala, onde havia uma mesa quadrada. Uma das minhas mãos e meu pulso foram amarrados em uma tábua que ficava em uma das beiradas opostas da mesa. Estava muito escuro, e meus olhos, aos poucos, foram se ajustando à escuridão. Ela se virou para o lado, e começou a mexer em uma espécie de controle. De repente, uma tábua pesada caiu em cima da minha mão e do meu pulso. A terrível dor me fez desmoronar ao chão, mas eu não conseguia me soltar, e fiquei pendurada pela mão ferida. Até roubar um bocado de pão velho era tratado como um crime hediondo, que imediatamente acarretava em um castigo cruel.
À medida que os anos passavam, aprendi a usar martelo, serra, pá e qualquer ferramenta que um homem normalmente usa. Dávamos duro. Fazíamos trabalho manual pesado, cavando túneis e salas subterrâneas, construindo paredes, revestindo, etc. Geralmente, eram três, quatro ou cinco quilômetros de túneis atrás de nós. Às vezes, nós nos perguntávamos se ainda tínhamos voz, pois, devido à rígida regra do silêncio, nós falávamos sussurrando umas com as outras. Logo na manhã seguinte, a Madre Superiora chamava as infratoras e dizia: “Você vai fazer penitência.” Nós ficávamos imaginando como ela podia ter nos escutado. Um dia, ficamos sabendo que todos os 56 quilômetros de túnel debaixo do convento possuíam sistema de escuta, de forma que ela podia ouvir cada sussurro. Trabalhando nos túneis, ouvíamos o barulho do sino, chamando para a refeição. Às vezes, por causa da fadiga ou da distância, chegávamos atrasadas. Tendo em vista que cada uma tinha o seu lugar, era fácil saber quem estava atrasada. Quando nos atrasávamos, após pegar o copo, a panela e a colher, tínhamos que sair engatinhando atrás de cada freira, implorando uma colher da sua comida. Depois de engatinhar atrás de cada uma, as infratoras se sentavam no chão para comer. Isto é para humilhá-las, ferir o seu orgulho, e ainda incentivar a pontualidade.
O dia no convento começava às 04h30 da manhã, quando a Madre Superiora tocava um sino. Isto significava que nós tínhamos exatamente cinco minutos para nos vestir. No começo, eu me atrasava trinta segundos, mas o castigo para esta pequena infração era tão severo que eu nunca mais me atrasei de novo. No convento, os castigos cruéis acarretam em obediência absoluta e inquestionável a cada regra e a cada ordem, não importa o quanto seja banal ou irracional. Mentiras e enganos e encobrimento
e ocultação de infrações, com vistas a evitar as terríveis consequências, tornam-se um estilo de vida para as freiras. Quando acabávamos de nos vestir, caminhávamos na ponta dos pés, olhando para baixo, e nos apresentávamos à Madre Superiora. Então ela nos falava quais eram nossas tarefas do dia, que incluíam limpeza, lavar e passar roupa, cozinhar, além de outros trabalhos pesados e cansativos.  Lavávamos as roupas em doze tinas velhas, usando aventais de alumínio. Para passar, nós usávamos um ferro que aquecíamos no fogo. Não era só para o convento que nós lavávamos e passávamos. Os sacerdotes da redondeza tinham a liberdade de nos mandar todas as suas roupas sujas, inclusive roupas de cama e mesa. Era um trabalho escravo, feito de graça para eles. O piso da lavanderia era feito de um cimento áspero, e a lavagem pesada em doze bacias velhas fazia com que a água de sabão se espalhasse por todo o chão. Nós caminhávamos descalças porque meias e sapatos eram um luxo que nos era negado no convento. De repente, a Madre Superiora aparecia de supetão, aterrorizando todo mundo, pois não tinha como saber por que ela tinha vindo. Quando ela aparecia deste jeito, alguém sempre tinha que sofrer. Tendo em vista que as coisas são feitas em silêncio em um convento, nós aprendemos a perceber a presença dela antes mesmo de ela chegar.
Um dos seus preferidos divertimentos na lavanderia era ordenar que uma ou mais freiras se prostrassem no chão ensaboado, molhado e frio. Em seguida, com um olhar cruel de desprezo, ela mandava a vítima desenhar, com a língua, cruzes extensas no piso áspero. Ela observava atentamente, para ver se havia o menor sinal de raiva, tédio ou receio no rosto daquela que era forçada a desenhar as cruzes, lambendo o chão. Se percebesse alguma coisa, em vez de dez, ela mandava fazer vinte e uma cruzes com a língua. Acreditem, ela ficava satisfeita só depois que a língua estivesse esfolada e sangrando. A vítima ficava incapacitada de comer e beber por um ou dois dias, por causa da língua machucada. Muitas vezes, a madre voltava logo no dia seguinte, agarrava a mesma vítima e a forçava a fazer as cruzes de novo.
O trabalho duro era adotado como uma boa maneira de disciplinar. Por causa da constante tortura e da fome, nós entrávamos e permanecíamos em um estado crônico de fadiga e exaustão. Éramos propriedade do Papa e do sistema, tínhamos que trabalhar até a morte, para o prazer deles. Todo o nosso choro e lamento nunca seria ouvido. Ninguém moveria um dedo para nos ajudar. Outro castigo favorito era nos forçar a caminhar de joelhos dez vezes em um corredor, de cima a baixo. Quando eu fazia isso, meus joelhos me matavam na quarta ou sexta vez. Sem forças, eu não podia continuar, e então caía exausta. A Madre Superiora me sacudia, me punha de volta de joelhos e me mandava continuar. Eu procurava desesperadamente terminar aquela tarefa. No dia seguinte, ela quase sempre me ordenava a fazer a mesma coisa, e isto machucava ainda mais os meus joelhos, que já estavam cortados e esfolados.
Estes eram os tormentos e as torturas a que as freiras estavam sujeitas, dia após dia, ano após ano. Não há misericórdia. Há apenas crueldade, e isto multiplicava e reforçava o desespero e a falta de esperança que estavam em todo o convento.  Eles sempre nos diziam que, se fizéssemos tal “penitência”, estaríamos satisfazendo e alegrando a Deus, que olhava para o nosso sofrimento, e dava um sorriso de aprovação. Embora fosse difícil aceitar isto, religiosos sem conhecimento simplesmente acreditam no que lhes é ensinado. Sem nunca ter lido a Bíblia, não havia como aprendermos a verdade. Muitas de nós tínhamos sido educadas conforme os ensinamentos e as tradições do catolicismo romano, e fomos arrancadas ainda bem jovens da família e dos amigos. Não demorava muito para nos darmos conta da terrível realidade, e então vinha a decepção. Quando isso acontecia, o resultado eram ateístas que odiavam qualquer coisa relacionada a Deus e aos santos. Ódio, crueldade e violência então aflora naqueles corações desiludidos e amargurados.
Não havia banheira de tomar banho naquele convento, apenas um tanque de metal, idêntico àqueles em que os cavalos bebem água. Nós só podíamos tomar banho quando a Madre Superiora ordenava. No banho, eu tirava todas as roupas, exceto meu escapulário. Fomos ensinadas que, no primeiro sábado após a morte de um católico romano, a Virgem Maria descia ao purgatório. Ela libertaria quem quer que encontrasse lá usando um escapulário. Fui iludida por esta e outras mentiras religiosas, pois nã tinha conhecimento.
Fui ensinada a aceitar como verdade tudo que a Madre Superiora dizia.
No convento, havia uma enorme pintura em uma determinada sala, representando os horrores dos homens, mulheres, crianças e até bebês nas terríveis chamas do purgatório. A agonia e o sofrimento estavam tão bem retratados que a pintura parecia real. Nós íamos para aquela sala a fim de meditar por um longo período sobre o tormento dos perdidos. Em seguida, a Madre Superiora fazia um discurso para as freiras, dizendo que elas tinham que fazer mais penitência no corpo, pois aquelas pobres pessoas estavam implorando para escapar daquelas terríveis chamas.
Houve muitas ocasiões em que queimei meu próprio corpo e derramei mais sangue, porque estava convicta de que meu sofrimento ajudaria aquelas miseráveis pessoas a serem libertas. Costumo dizer que, se a missa e o purgatório fossem eliminados da Igreja Católica, o sistema perderia 90% do seu rendimento, e definharia até cessar. Este sistema babilônico maligno suga tanto vivos quanto mortos, a fim de adquirir fundos para financiar sua cancerosa difusão pelo mundo.  A cela das freiras era vazia, exceto por uma imagem da Virgem Maria segurando o menino Jesus. Eu rezava fervorosamente pela humanidade perdida quando me colocava em cima dos perfurantes arames farpados da tábua de reza. Eu tinha sido ensinada que o meu sofrimento e derramamento de sangue ajudaria a salvá-los. Eu acreditava que, por causa do meu sofrimento, minha pobre e velha avó seria libertada logo do purgatório, pois o sacerdote da nossa família tinha nos assegurado que ela foi para lá ao morrer. Apesar da dor, eu era estimulada a ficar mais tempo naquela dolorosa postura, acreditando com fervor que isto iria acelerar a saída da minha avó.
Fomos ensinadas que, para cada gota de sangue que derramávamos no convento, tínhamos 100 dias a menos no purgatório. Quando as freiras trabalhavam na cozinha ou em outros lugares subterrâneos, elas geralmente se feriam, a fim de derramarem sangue para este propósito. Na nossa cabeça, ficava martelando o pensamento de que, quando derramávamos o próprio sangue, açoitando, lacerando, torturando a atormentando nosso corpo, estávamos ganhando indulgência para nós e para os que estavam no purgatório. Lembrem que não há esperança em um convento. Lá não se ganha nada, exceto a dor contínua, exaustão, fome e, finalmente, a morte.  Não façam cortes em seus corpos por causa dos mortos,  nem tatuagem em si mesmos. Eu sou o Senhor.  Levítico 19:28 (NVI)
Para aqueles que foram ensinados sobre a verdade da salvação, através da fé em Jesus Cristo, e que conhecem a maravilhosa graça de Deus, pode parecer inacreditável que alguém seja tão iludido e ignorante. Se você só aprendeu isso na sua vida e, quando criança, foi submetida a uma lavagem cerebral que finalmente te aprisionou em um convento, eu advirto que você ainda não conhece a verdade.
Só depois de dez sofridos anos no convento é que me dei conta da terrível realidade a que fui submetida. Eu estava definitivamente convencida de que a Virgem Maria, Jesus, José, São Pedro e todos os outros santos eram simplesmente metal, madeira ou gesso. Foi um choque quando eu soube que nada podiam fazer para responder a todas as fervorosas orações dirigidas a eles pelos fiéis e desiludidos espalhados pelo mundo.
É surpreendente como era grande a minha fé em todos aqueles falsos ídolos. Demorou muito para perceber a amarga verdade sobre eles, e então veio a decepção. Eu tive de acreditar que, se existisse um Deus, ele certamente estava morto, e nem se importava com a humanidade. Ah, quantas horas eu e outras tínhamos gastado chorando e rezando fervorosamente aos pés daquelas imagens mudas. Ai de mim! Estou ferido! O meu ferimento é incurável! Apesar disso eu dizia:  Esta é a minha enfermidade e tenho que suportá-la.  Jeremias 10:19 (NVI)
O convento recebia regularmente, todos os meses, a visita de um sacerdote confessor, com quem tínhamos de nos confessar. Era sempre um sacerdote diferente que vinha, mas eles eram todos iguais. Eu odiava me confessar, e sempre procurava ficar na última fila. Vivi tanto tempo em um convento que aprendi a nunca confiar em sacerdote algum. Todos os que conheci eram vis e corrompidos. A confissão às vezes demorava o dia todo. Uma a uma, as freiras tinham de ir em fila para a sala onde estava o sacerdote. Eu nunca vi um sacerdote no convento que não estivesse bebendo. A sala era vazia, exceto pela costumeira imagem da Virgem Maria. O sacerdote ficava sentado em uma cadeira reta, e a freira vinha e se ajoelhava diante dele. Se ela se retirasse da sala sem ser acusada de alguma depravação inexprimível ou de ter tido sua pureza manchada, ela era uma felizarda. Ninguém jamais interrompia o sacerdote e a freira, não importa o que acontecesse. Uma a uma, as freiras entravam e saíam da sala.  Em outras ocasiões, a Madre Superiora era a responsável por um sacerdote bêbado pegar uma freira e levar para uma cela, para mais bebida e sexo.
A Madre Superiora era uma mulher rude e carnal, que tinha feito vir ao mundo uma porção de filhos ilegítimos de sacerdotes, e geralmente ela bebia junto com os visitantes. O sacerdote era bem alimentado, saudável e forte. Vivia uma vida relativamente fácil. Por isso, uma mulher fraca não podia lutar com ele. Tendo em vista que ela era indefesa, ele fazia tudo que quisesse, até estuprá-la. Não havia ninguém para defender nem para ajudar, e ninguém sequer se importava com o fato de ela ser forçada a se prostituir. Visto que a Madre Superiora trancava a cela, não tinha como escapar. Eu cuidava com frequência dessas freiras que eram vergonhosamente violentadas e abusadas. A imaginação do sacerdote determinava o tipo de brutalidade que ele podia infligir na sua vítima. Eu vi e experienciei todo tipo de coisa nojenta e lasciva que são praticadas nos conventos. O corpo da freira geralmente estava cheio de escoriações e outras marcas. Ela parecia com algo que seria jogado aos porcos.
Aqueles que dizem que estou exagerando são os próprios sacerdotes, na tentativa de encobrir a verdade, ou aqueles que nunca estiveram dentro de um convento. Conheço a verdade, pois estive lá, e é algo monstruoso e chocante! Você pode imaginar a terrível situação da freira em frente ao sacerdote? Se ela não quisesse e o recusasse, ele reclamaria para a Madre Superiora. Então duas mentes malignas se juntavam, e eles vinham com coisas para fazer com aquela freira, que mentes normais jamais imaginariam. Dentro de um ou dois dias depois de ela ter resistido ao sacerdote, a Madre Superiora a chamava à parte para fazer penitência. Não havia escolha. Com o coração apertado, ela era levada para as masmorras, onde seria executada a terrível represália arquitetada pelo sacerdote e pela Madre Superiora.
Em algumas manhãs, quando estávamos nos preparando para o trabalho, a Madre Superiora chamava dez ou quinze de nós. Tremíamos e ficávamos apreensivas, nunca sabendo o que estava por vir. Não nos era permitido questionar; apenas obedecer, como máquinas. “Seremos punidas, iremos para as câmaras de penitência ou o quê?” Então, ela abruptamente ordenava que ficássemos em fila e tirássemos toda a roupa. Com o coração apertado, fazíamos o que ela tinha mandado. Pela experiência, sabíamos o que viria a seguir.  Quase morrendo de fome, cheias de cicatrizes e com a cabeça rapada, nossa aparência devia estar lamentável. Visto que espelhos são totalmente proibidos em um convento, eu não tinha a menor ideia da minha aparência durante todos os anos em que estive encarcerada. Quando eu observava as outras e via que eram abatidas, de semblante cansado, olhos fundos, dentes caindo, e corpos esqueléticos de fome, eu dificilmente imaginaria que minha aparência também era aquela.
Certa vez, depois de termos tirado a roupa, três sacerdotes bêbados apareceram, olharam com lascívia para as garotas nuas, e cada um escolheu uma parceira para ir até a cela com ele. Lembrem que aqueles são conventos de clausura, e os sacerdotes são livres para fazer tudo que quiserem por trás do manto de uma religião corrompida. São esses devassos que depois voltam para o rebanho para ministrar a missa e ouvir confissões de pessoas que acreditam que eles podem absolvê-las dos pecados. Cheios de fornicação, perversão e vício, eles agem como o deus deles!
Vocês tem ideia do que todos esses abusos vis e perniciosos fizeram comigo? Eu não podia imaginar que alguém pudesse guardar tanto ódio, ressentimento e amargura dentro de si. Na minha mente, eu sempre planejava e desejava a morte da Madre Superiora e dos outros atormentadores. Como eu tinha prazer nesses deliciosos pensamentos de vingança e raiva! O convento fez isso comigo. Eu certamente não era
assim quando entrei lá. Depois que os sacerdotes tinham conhecido todas as freiras, eles ficavam muito bravos quando nos negávamos a fazer alguma coisa que eles queriam. Frequentemente, um sacerdote bêbado irritado nos dava um murro na boca. Eu mesma tive meus dentes da frente afrouxados por ter levado um soco no rosto. Muitas vezes, éramos jogadas no chão e chutadas no estômago. As grávidas não tinham proteção, pois o sacerdote sabia que, de qualquer forma, o bebê ia ser morto quando nascesse.
Muitos bebês nascem nos conventos, por causa da corrupção maligna deste sistema nojento, disfarçado de religião. Não é a toa que a Babilônia está condenada à completa destruição. Ela é indescritivelmente desprezível. Vi uma grande quantidade de bebês nascer nos conventos. A maioria era anormal e deformada, e era raro um nascer perfeito. Com minhas mãos, fiz o parto de muitos, muitos deles, e é por isso que sei. Com os meus olhos, contemplei o horror daquilo, e o mundo tem que saber o que se passa naquelas câmaras de horror.  Muitos têm dito que estou exagerando, e que as coisas não são assim. Mas, para provar, eu teria de ir aos tribunais. Eles teriam de abrir os conventos, mas isto eles não têm coragem de fazer. Após ter ficado presa por vinte e dois anos neste sistema podre, sei do que estou falando.
As jovens que vão ser mães esperam com entusiasmo a chegada do seu precioso bebê. Tudo está pronto: o quarto, o berço, as roupas, e tudo vai bem com ela. Em contrapartida, no convento, uma freira tem medo da hora em que dará à luz. A criança é o produto de uma união ilícita, vergonhosa e forçada com um sacerdote bêbado. A partir da amarga experiência, ela sabe que o bebê viverá, no máximo, apenas quatro ou cinco horas. Ele não será higienizado nem aquecido em um cobertor, pois a Madre Superiora tapará a boca e o nariz, e ele morrerá sufocado.
É por isso que há poços de calcário em todos os conventos. Corpos de bebês são jogados nesses buracos, para serem destruídos. Orem para que os governantes obriguem os conventos a abrirem suas portas, a fim de libertarem os prisioneiros e fazer o mundo saber os horrores que estão por trás daquelas portas de religiosidade cruel e hipócrita. Se isto acontecer, garanto que até os católicos vão concordar com o fechamento dos conventos, como aconteceu no México, em 1934. Se eles fizessem ideia do que se passa lá, nunca exporiam suas filhas a tamanha barbaridade, devassidão e tortura.
Os conventos no México foram transformados em museus do governo, que vocês podem visitar por um preço bem modesto. Vão lá, vejam com os próprios olhos e toquem com as próprias mãos as coisas sobre as quais estou falando. Desçam pelos túneis, vão até as masmorras e as câmaras de tortura, e vejam todos os instrumentos diabólicos, perversamente concebidos para infligir sofrimento no corpo das freiras indefesas. Vejam vocês mesmos as celas onde freiras eram trancadas todas as noites, observem as camas e as tábuas de reza. Isto vai fazer vocês orarem por centenas de vidas preciosas que tem sido enganadas e seduzidas a entrar nessas prisões profanas, para viver uma vida de sofrimento e total desespero debaixo do sistema católico romano. Lembrem que eu tive uma mãe e um pai que me amavam muito. Quando consentiram que eu ingressasse no convento, eles nem faziam ideia de que eu ia ser submetida a esta humilhação. Eles foram assegurados que dar uma filha para aquele tipo de trabalho era o maior chamado, a mais fina expressão de fé e amor a Deus.
Trancadas no convento até a morte, nós nunca poderíamos sair e fazer as pessoas saberem o que realmente acontece lá dentro. Com todos os meios de comunicação cortados, estávamos longe da proteção da lei e dos amigos e entes queridos. O desespero e a depressão vão crescendo à medida que você começa a se dar conta do isolamento. É enlouquecedor saber que não há saída, socorro, enfim, nenhuma possibilidade de escape.
Os católicos romanos proclamam em alta voz que todos podem entrar em qualquer convento, seja aberto ou fechado. Há uma capela do lado de fora e o que eles chamam de sala de conversação. Até mesmo lá só se entra depois de ter passado por uma escolta. Se estiver levando comida para uma determinada freira, você vai até a frente da sala e toca uma campainha. Isto vai ativar uma comporta com três prateleiras, que vão se abrir para receber as coisas da freira que está lá dentro. Quando soa a campainha, pode ter certeza que a Madre Superiora está sentada bem atrás do pesado véu preto que cobre o grande portão de ferro que guarda a parte interna do convento.  Só é permitido falar com a Madre Superiora através do véu. Se pedir para falar com uma determinada freira, você poderá conversar com ela, mas somente através do véu. Se for perguntada sobre sua felicidade, saúde, comida, etc, a freira sempre responderá positivamente. Afinal de contas, a Madre Superiora está sentada lá, monitorando cada palavra.  Se a freira reclamar ou revelar algum detalhe desagradável da vida lá dentro, imediatamente haverá medidas rudes de retaliação, assim que o visitante for embora. Há boas razões para eles não permitirem que os parentes vejam as freiras em pessoa. Depois de um certo tempo no convento, os olhos estão fundos e o corpo está tão fraco, pálido e não saudável, que ver isso causaria um protesto de revolta.
Muitas foram as noites em que eu estava extremamente exausta e precisando muito dormir, mas a fome voraz não me deixava. O café da manhã era apenas um pedaço de pão e um copo de café preto que nem sequer enganavam aquela fome contínua. Para quem sempre teve o suficiente para se alimentar, vai ser difícil entender a situação daqueles que toda noite vão para a cama com fome. Isto é típico de países pobres e atrasados, e se torna ainda mais diabólico quando você percebe que o que estou descrevendo é intencionalmente planejado e posto em prática com uma crueldade astuta e maligna. Lembrem que não há dia nem noite em que as freiras presas nos conventos de clausura espalhados pelo mundo vão para a cama sem estar com fome. Elas estão doentes, machucadas, feridas, deprimidas, desencorajas, com saudade de casa e preenchidas pelo desespero. Enquanto nós olhamos para o Senhor Jesus Cristo em busca de esperança, essas pobres mulheres não a tem. Serem libertas da perdição eterna é o melhor que elas podem estar procurando.
De vez em quando, eu encontrava católicos romanos que juravam falso dentro dos conventos. Você deve lembrar que os católicos são totalmente livres para mentir, a fim de proteger a igreja, e eles nem precisam contar isso na confissão. É permitido roubar até $40.00. Até essa quantia, o roubo não precisa ser confessado.  Não furtarás. Não darás falso testemunho contra o teu próximo.  Êxodo 20:15-16 (NVI)
Minha fúria da Madre Superiora tinha aumentado. Ela sempre me escolhia para fazer penitência por ter quebrado alguma regra do convento, real ou imaginária. Ela sadicamente me infligia algum sofrimento cruel e diabólico, arquitetado para destruir minha mente e meu corpo. Eu estava tão saturada de violência e retaliação que vivia para o amargo dia em que seria capaz de retribuir um pouco do sofrimento que tinha passado. Toda essa horrível violência e ódio dentro de mim foi por causa da interminável crueldade, privação, moléstia e um incrível sofrimento causado pelos meus capturadores.
Geralmente, eu imaginava a alegria que seria matar um dos sacerdotes brutos e lascivos que nos violentavam com frequência.  Nos meus vinte e dois anos no convento, vi a morte de três madres superioras. Tendo em vista que eu era enfermeira, certo dia duas freiras vieram me chamar para cuidar da Madre Superiora, que estava gravemente enferma. Um médico católico romano tinha sido chamado para examiná-la. Ele me deu severas instruções sobre alguns medicamentos fortes que tinha deixado para ela. Então, subiu à tona todo o ódio que eu tinha guardado por aquela mulher cruel e profana, e pelo maldito sistema que ela representava. Eu teria a minha vingança. Eu veria aquela mulher morrer!
O dia demorou para passar enquanto esperava por uma oportunidade. As luzes se apagaram às 21h30. As freiras estavam trancadas em suas celas. O tempo passou bem devagar, até que finalmente a chamada da meia noite para rezar terminou com as luzes sendo apagadas. Peguei uma porção de comprimidos e dissolvi em água. Foi uma overdose forte e deliberada. Entusiasmada, despertei a mulher e, conscientemente, forcei-a a beber cada gota daquela mistura fatal. Quando a deitei de novo, triunfei. Logo ela teria uma morte horrível, e minha vingança seria bem doce.
Chequei o pulso dela, que estava palpitando rápido, assim como a respiração. Em pouco tempo, ela começou a se lamentar e a tossir e, finalmente, começou a ter violentas convulsões. Dei um sorriso diabólico, pois anos de abuso tinham me transformado em um monstro amargo e cruel, pronto para matar. De repente, percebi o que tinha feito. Chocada, eu sabia que provavelmente teria de prestar contas da morte dela. Eu nem imaginava o que eles poderiam fazer comigo por causa daquilo. Desesperada, comecei a fazer uma lavagem estomacal, trabalhando energicamente para salvá-la. Fiz massagem nela com água gelada. Depois de algum tempo, sua respiração e pressão sanguínea normalizaram, e ela caiu em um sono profundo. Foi então que relaxei e percebi que tinha escapado por pouco.
Eu sabia que, em uma parte do sistema de túneis, embaixo do convento, havia um lugar onde se ouvia com frequência gritos horríveis, que vinham de trás de uma pesada porta trancada. A Madre Superiora sempre nos advertia para nunca irmos lá. Isso era uma advertência inútil, pois nenhuma de nós tinha as chaves. Contudo, minha curiosidade sobre aquele lugar era impressionante. Com a minha paciente finalmente fora de perigo, e o convento dormindo, então lembrei que as chaves estavam na mesa da Madre Superiora. Peguei-as e corri escadaria abaixo. Tendo descido dois andares, descobri, com a luz das velas, a porta proibida, que tinha despertado a minha curiosidade. Nervosa, fui pondo na fechadura cada chave daquele grande chaveiro, até encontrar a certa. A enorme porta se abriu silenciosamente, revelando um corredor com dezenove celas bem pequenas. Fiquei boquiaberta de horror quando, ao olhar para dentro das celas, vi rostos brancos, cansados e arruinados de freiras com quem eu tinha comido, rezado e trabalhado. Cada uma tinha desaparecido repentinamente, e sem explicação. Reconheci uma em particular, e perguntei a ela quanto tempo estava lá, além de lhe ter feito outras perguntas. Seus olhos entorpecidos e sem vida estavam vitrificados de terror, e ela não dizia nada. Um medo paralisante rege o convento, e aquelas prisioneiras não sabem onde a Madre Superiora pode estar escondida. Ninguém falava, para que coisas piores não lhes acontecessem. Fui a todas as celas, mas a resposta era sempre a mesma: medo e silêncio.
Das celas que ficavam no fim do corredor, vinha um fedor que dava nojo, e eu fiquei com náusea e passei mal quando olhei lá para dentro. Todas as cativas dali tinham longas correntes em volta da cintura, que as impedia de se sentar ou deitar. Elas estavam curvadas, cheirando mal por causa da própria urina e excrementos, pois tinham sido condenadas a uma morte lenta, com pouca água e nenhuma comida. Algumas já estavam mortas, e o horrível cheiro da morte estava lá. O “crime” delas consistia ou em infrações frequentes às regras do convento, ou em terem sido azaradas demais, e acabaram tendo um colapso nervoso ou mental, por causa da pressão da vida na clausura. Era assim que eles lidavam com essas questões: tinham um depósito escondido para as imprestáveis do convento.
Passando muito mal e com a cabeça nas nuvens, saí daquela câmara de horrores e tranquei de novo a porta. Bem depressa, subi as escadas e fui até onde estava a minha paciente, que ainda dormia tranquilamente. Fiquei aliviada quando vi que sua pressão sanguínea e respiração estavam normais. Ela dormiu até tarde no dia seguinte, e eu fiquei com ela por mais três dias. A Madre Superiora se sentiu tão melhor que eu fui recompensada com seis semanas de trabalho na cozinha. Isto era um privilégio, pois a cozinha ficava no primeiro andar. Havia olhos mágicos nas paredes da cozinha, e não tinha como saber quando alguma freira ou sacerdote estivesse nos observando. Com essa constante vigilância, a menor infração às regras, em especial o roubo de comida, podia ser descoberta bem rápido e punida de forma severa. Isto contribuía para a sensação de estar o tempo todo em uma prisão hostil. Mas eu estava contente por estar lá.
Na cozinha, havia uma porta trancada, que dava para o pátio. O lugar onde colocávamos as latas de lixo ficava perto desta porta. No meu terceiro dia de trabalho lá, alguém bateu as latas de lixo. Nós seis pulamos de susto. Quando se trabalha e se vive em uma atmosfera onde o silêncio é sempre exigido, você se torna muito sensitivo até mesmo para barulhos corriqueiros, que outros nunca percebem. Vimos lá no canto um homem que estava substituindo uma lata cheia de lixo por uma vazia. Recobramos rápido nossa compostura. Olhamos para baixo e voltamos depressa ao trabalho, temendo que pudéssemos estar sendo observadas. Fomos ensinadas que o corpo dos sacerdotes e bispos são santificados. Porém, o de todos os outros homens não o são e, se fôssemos pegas olhando para eles, poderíamos receber um castigo severo por este pecado. De repente, uma ideia excitante, porém perigosa, veio à minha mente. Talvez eu pudesse mandar uma mensagem para aquele homem! Contudo, havia muitos empecilhos, pois eu não tinha caneta e papel, já que tais objetos eram proibidos. Mas, na mesa de trabalho da cozinha, havia um bloco de papel com uma caneta amarrada, que servia para listar os itens de curto prazo do trabalho na cozinha. Arranquei um pedaço de papel, para escrever algumas palavras com aquela caneta. Até o fim do dia, eu tinha conseguido escrever cerca de duas linhas e meia, implorando por socorro. Fiquei apavorada com o que tinha feito. Porém, eu tinha ido longe demais para voltar atrás. No fim do dia, escondida, pus o bilhete em cima do lixo, e deixei a lata destampada. Então, tirei meu crucifixo e, embora tenha sido difícil, quebrei-o e o pus na prateleira.
Depois que os trabalhos na cozinha estavam terminados, fomos para a nossa inspeção diária, feita pela Madre Superiora. Ela revistou cuidadosamente nossas saias, para se certificar de que não tínhamos pegado comida. Quando chegou a minha vez, eu disse: “Madre Superiora, quebrei meu crucifixo e o pus na prateleira que fica encima da mesa de trabalho. Posso voltar lá para pegá-lo, por favor?” Ela me perguntou como aquilo tinha acontecido e, finalmente, de mal humor, disse para eu ir buscá-lo rápido. Afinal de contas, uma freira não pode ficar sem o seu crucifixo! Voei para a porta de trás e procurei a lata de lixo em que tinha posto o recado, pedindo para aquele
homem dar um retorno. Havia um pedaço de papel dobrado, uma mensagem! Minhas mãos tremiam, e eu mal podia ler. Minha respiração estava ficando ofegante, em um misto de excitação e medo. Quando finalmente consegui ler, meu coração disparou, batendo tão rápido que parecia um trovão em meus ouvidos. O bilhete dizia que o homem iria deixar destravada a porta da cozinha que dava para o pátio, assim como o grande portão de ferro da muralha que rodeava o convento!
Liberdade! Eu mal podia controlar a minha respiração quando, cuidadosamente, fui abrir a porta que dava para o pátio. É claro, ela estava aberta, e então pus meus pés no piso da varanda. De repente, gelei, paralisada pelo medo, e comecei a ficar tonta, com náusea. Eu tinha me lembrado do assustador som do alarme que tocava, avisando que uma freira estava tentando fugir. Estremeci quando recordei que a miserável fugitiva era capturada bem rápido pelos sacerdotes, que a arrastavam de volta. E então começava uma rodada de intermináveis penitências e cruéis tormentos, para fazê-la se arrepender. Valia a pena eu me arriscar?
Tremendo, respirei fundo e dei mais um passo, dessa vez para fechar e travar a porta atrás de mim. Eu agora não poderia voltar atrás, então me arremessei em direção ao portão de ferro. Para além dele, estava a gloriosa liberdade daquela câmara de horrores onde eu tinha estado aprisionada por vinte e dois longos anos! Valia a pena se arriscar pela liberdade. Embora eu estivesse desesperada com frequência, eu ainda ansiava por estar livre. Finalmente, isso estava ao meu alcance, e fortes emoções tomaram conta de mim quando cheguei ao portão.  Empurrei o portão de ferro suavemente. O terror revirou o meu estômago. Empurrei de novo, com toda a minha força. Estava trancado! Chorei em silêncio e quase desmaiei ao lembrar que tinha estupidamente travado a porta da cozinha. Eu estava presa em uma área proibida, sem nenhum motivo plausível para estar lá. Em pânico, pensei em todas as torturas que a Madre Superiora usaria para corrigir esta “rebelião”. Comecei a tremer incontrolavelmente, e minha mente estava muito confusa. Por que, por que o portão estava trancado?
Desesperada, comecei a escalar o ornamentado e alto portão de ferro. Nós éramos mantidas quase morrendo de fome e trabalhávamos pesado até quase morrer, e sem falar das frequentes sessões na câmara de tortura. Um corpo fraco e gasto, pouco mais do que pele e osso, não tem nenhuma reserva de energia. Eu escorregava com frequência, arranhando as mãos e os pés nas ásperas barras de metal. Eu estava morrendo de dor, mas, finalmente, ofegante e sangrando, cheguei ao topo do portão, que continha uma fileira de barras de ferro longas e afiadas. Parei por um instante, pois minhas pernas estavam doendo por causa do esforço. Meu coração desfaleceu de medo quando olhei para baixo, do alto daquele portão de 6 metros de altura. Eu tinha que descer do outro lado. Minhas três saias longas e meu véu que ia té o joelho iam atrapalhar a descida. Então, decidi me arriscar a pular.
Com uma das mãos, puxei minha pesada roupa para cima, respirei fundo e pulei. Duas das minhas saias se prenderam nas barras do portão, e eu fiquei suspensa no ar, com meu corpo balançando e batendo contra o portão. Eu estava agora com mais medo do que nunca, balançando freneticamente para frente e para trás. Com a mão livre, desprendi minhas saias das barras do portão, e então despenquei. Com minhas saias esvoaçando, caí no chão com uma dor estonteante. Descobri mais tarde que tinha fraturado um braço e o ombro.
Visto que eu estava muito magra, meus ossos fraturados ficaram expostos. Ondas de dor me inundaram e eu fiquei inconsciente. Não sei quanto tempo fiquei caída lá, mas provavelmente foi por um período breve. Após ter recobrado a consciência, as dores pareciam ter tomado conta de todo o meu corpo, especialmente o meu braço e o meu ombro fraturado. Suspirei de dor e, mordendo meus lábios, me pus em pé com dificuldade. O medo de ser recapturada sobrepujou a dor corporal, e comecei a caminhar o mais rápido que podia. Eu estava em um país estrangeiro. Para onde ir? O que fazer? Eu estava fisicamente arruinada, não tinha dinheiro e nenhum amigo. Apenas o desejo de ser livre me impulsionava a seguir em frente.  Eu caminhava, corria, depois voltava a caminhar. Doutrinada na quietude do convento, eu ficava imaginando se o farfalhar das folhas atrás de mim eram o barulho de alguém me seguindo. Por causa da exaustão, estava cada vez mais difícil continuar caminhando, pois eu estava tão enjoada, atordoada e doente.
Avistei uma pequena edificação e, cheia de dores e com dificuldade, fui até lá, para tentar dormir um pouco. Eu devia estar delirando, e até consegui cochilar um pouco. Mas, no final das constas, eu estava com tanta dor que decidi continuar caminhando. Respirei fundo, levantei com dificuldade e caminhei o resto da noite.  Com esforço e determinação, eu era impelida a me afastar do meu convento. Uma coisa que eu tinha sido forçada a aprender na clausura era permanecer na função, apesar da dor e do sofrimento. Milagrosamente, minha fuga não foi descoberta de imediato, e isto me deu uma certa vantagem. No segundo dia, escondi-me debaixo de uma pilha de tábuas e de placas de metal. Um sol escaldante estava batendo no lugar onde me escondi. Eu me virava de um lado para o outro, por causa do calor. Cheia de dores, eu estava fraca, sedenta e faminta. Provavelmente, eu fiquei inconsciente várias vezes durante aquele dia longo e quente. Quando anoiteceu, arrastei-me para fora e comecei a caminhar outra vez.
Eu estava com muito medo de bater na porta das casas, pois alguma família devota do catolicismo romano poderia contar a um sacerdote, que me levaria de volta para o convento. Essa possibilidade forçou minhas doloridas pernas a me levar mais para dentro da zona rural, a fim de estar segura. Eu preferiria morrer a ter que voltar para os meus impiedosos atormentadores.  Pelo terceiro dia, eu tinha certeza de que iria morrer. Eu estava com uma febre alta, terrivelmente nauseada e minha mão, meu braço e meu ombro estavam inchados e palpitando. Até a ponta dos meus dedos tinha ficado verde e azul. Como um animal ferido quase morrendo, arrastei-me por debaixo de uma cerca e, desesperadamente, cavei uma toca em um monte de feno. Fiquei lá uma boa parte do dia. Mas um misto de dor, fome e sede finalmente me tirou de lá.
Cheguei a um casebre, obviamente muito pobre. Tomando cuidado para o vento não me derrubar, fui até lá e bati na porta. Quando um homem atendeu, implorei que me desse um copo de água. Eu devia estar com uma aparência assustadora, pois ele não disse nada. Quando chamou a esposa, ela imediatamente abriu a porta e me levou para dentro de casa. Era a primeira vez em anos que eu via compaixão de verdade nos olhos humanos. Lágrimas começaram a rolar dos olhos dela quando olhou para mim e disse com ternura: “Venha e sente aqui, minha querida.” Aquela foi a mais bela melodia queeu já tinha ouvido.
Ela me fez sentar e trouxe depressa um copo de leite fresco. Lembrem que eu não tinha visto leite integral por anos e que estava faminta. De forma bruta, como um animal selvagem, agarrei o copo e gulosamente bebi cada gota. Como era de se esperar, quando o leite chegou ao meu barulhento e vazio estômago, o expeli de forma violenta, fazendo uma tremenda sujeira. Eu automaticamente recuei e me encolhi, pois estava condicionada a esperar que cada erro resultaria em recriminação e castigo. A gentil mulher não disse nada. Lágrimas brilhavam em seus olhos enquanto ela limpava a sujeira. Ela entendeu o que era preciso e, momentos depois, misturou um pouco de açúcar em um copo de água morna. Com uma colher de chá, ela me alimentou bem devagar com aquela mistura , dando um gole de cada vez. Aquilo me reviveu e tinha um gosto tão bom. Depois, ela esquentou leite e me deu só um pouquinho.
Profundamente preocupado, o homem observava o meu braço indefeso e sujo de sangue em cima da mesa, e perguntou como eu tinha me machucado tão feio. É difícil expressar o alívio que era falar com alguém que genuinamente parecia estar se preocupando comigo. Expliquei que eu tinha escalado o portão e caído no chão. Quando ele disse que era preciso chamar um médico, corri em direção à porta. Comecei a gritar histericamente: “Não! Não! Não tenho família; não tenho dinheiro; não posso pagar os serviços de um médico; vou fugir; tenho que ir agora”. Esta repentina explosão me deixou tão esgotada que fiquei tonta, e quase desmaiei por causa da pressão física e mental. O velho homem me conduziu com ternura de volta à cadeira, e me tranquilizou, dizendo: “Você está precisando de ajuda, e eu tenho que chamar um médico. Não precisa ter medo, pois não somos católicos romanos, e nem o médico”. Eu queria acreditar nele, mas ainda estava violentamente tremendo de medo.
Eu queria acreditar nele, mas ainda estava violentamente tremendo de medo. Eu tinha expectativa de que eles não me fariam mal, mas eu tinha sido condicionada a não confiar em ninguém. Por todos aqueles anos no convento, eu tinha sido cercada de traição, decepção e mentiras de todos os tipos.
Na verdade, eu estava muito doente e fraca, e não podia fazer nada além de sentar e esperar. Eu não tinha escolha, pois estava sem forças e tremendo incontrolavelmente. A mulher se pôs logo ao meu lado, para me acalmar. Há muitos anos que eu não via qualquer tipo de gentileza e consideração. Eu me dissolvi em lágrimas, pois meus nervos estavam completamente abalados por causa de tudo que eu tinha sofrido. Aqueles dois estranhos pareciam estar me entendendo, e foram infinitamente gentis comigo.
O velho homem amarrou o seu cavalo na carroça e percorreu uns 15 quilômetros até a cidade mais próxima. Um médico veio com ele e, depois de uma olhada rápida em mim, balançou a cabeça, bastante zangado. Eu estava aterrorizada, e me recusei a dizer a eles quem eu era e de onde tinha vindo. Eu estava com medo de todo mundo, e temia que algum traidor me levasse de volta para a prisão do convento.
Depois de o médico ter me examinado, ele ficou andando em volta de mim, não acreditando no que estava vendo. Quando olhava para a carcaça destruída do que era para ser uma pessoa, ele dizia palavrões, e sua respiração mostrava que estava muito bravo. Ele percebeu que estava me assustando. Ele estava furioso, não comigo, mas com o tratamento cruel que tinham me infligido. Irritado, mas gentilmente, ele disse: “Tenho que te levar o mais rápido possível para o hospital.” Comecei a chorar e disse que não queria ir para o hospital. Lá, eu tinha certeza de que meus inimigos me encontrariam e me levariam de volta. Implorei que não me forçasse a ir. Ele replicou que não iria me machucar, e que teria de me levar para onde poderia receber o tratamento adequado.
Quando fui admitida no hospital, eu estava pesando 40 quilos, 36 quilos a menos do que tinha em 1968. Primeiro, eu fui submetida a uma cirurgia para reduzir o terrível inchaço e a infecção do meu braço, mão e ombro. Levou mais de duas semanas para o inchaço melhorar, e os ossos começarem a soldar. Visto que estavam tortos, mais tarde eles tiveram de ser quebrados outra vez e engessados, em um procedimento bastante doloroso.
O médico e toda a equipe do hospital tinham entendido perfeitamente o meu caso, e cuidaram muito bem de mim. Depois de muitos anos de fome, tortura, condenação constante, degradação e de ser tratada como um animal, estava bom demais para ser verdade. Fiquei internada por mais de um ano. A restauração do meu corpo e da minha mente foi bastante lenta. Quando tinham se passado seis meses, meu gentil médico entrou, puxou uma cadeira, e segurou a minha mão. “Mocinha”, ele disse, “Temos feito tudo o que está ao nosso alcance para a sua recuperação. Agora temos de saber quem você é e de onde veio, que vou tentar localizar seus familiares”.
Ele sabia que eu era estrangeira e queria contatar meus pais. A gentileza dele me tocou tanto que me desmanchei em lágrimas, e dei a ele a informação. Dez semanas depois, ele finalmente tinha localizado os meus pais. Ambos estavam vivos, mas minha mãe estava paralítica e inválida há mais de sete anos. É claro que eu não sabia disso, pois, como fiquei sabendo mais tarde, eles não tinham recebido nenhuma das minhas cartas. No convento, não é permitida nenhuma comunicação com as pessoas de fora.
Face à cirurgia que tinha feito por causa da tuberculose nos ossos, eu estava incapacitada de andar. Quando tinha me recuperado a ponto de já poder ficar em uma cadeira de rodas, o médico achou que eu deveria sair do ambiente hospitalar. Ele me levou para a sua casa no subúrbio, onde a sua bondosa esposa comprou minha primeira roupa e calçado de pessoa civilizada.
Durante a minha estada no hospital, o querido casal de velhos, que tinha me acolhido na sua casa naquela noite terrível, me visitava com frequência. Eles vinham quase todos os dias, trazendo um buquê de flores para alegrar o meu quarto de hospital. Eu sempre esperava pelas visitas deles e observava entusiasmada o pequeno cavalo e a carroça chegarem ao hospital. Para me animar, ela fazia flores com pedaços de papel colorido. Eu os amava como se fossem do meu próprio sangue.  Eles estavam lá no dia em que tive alta do hospital, e perguntaram se eu gostaria de ir para a casa deles. Chorei e disse que amaria, mas que não podia porque estava indo para a casa do médico. Quando o médico me viu chorando, ele logo assegurou que não haveria problema algum de eu ir para a casa deles. Ele me levou no seu automóvel e me visitava com frequência, trazendo frutas e verduras frescas. Fiquei lá por seis semanas, e então voltei para a casa do médico.
Durante cerca de um ano após ter saído do hospital, eu ficava ora na casa do médico, ora na casa do casal de velhos. Tendo em vista que o meu cabelo se recusava a crescer, eu usava chapéus.
Chegou o dia em que eu tinha me recuperado o bastante que já podia recolher ovos, espanar os móveis, lavar e secar pratos. O médico deixou um cheque com o casal de velhos, a fim de me levarem para comprar roupas e uma mala. Certo dia, ele me levou para fazer uma viagem. Muitas pessoas tinham me dado dinheiro, que eu guardei cuidadosamente junto com a minha roupa.  Quando o meu benfeitor me deixou no trem, ele me advertiu: “Charlotte, não aceite comida de ninguém, salgada ou doce; não pegue nada, exceto no que esta única pessoa te der, pois ela vai tomar conta de você”.
Depois que o trem chegou ao seu destino, fui levada para um navio, e fiquei sob a tutela de uma outra pessoa, que me deu as mesmas rígidas instruções. Duas semanas depois, o navio atracou nos Estados Unidos. Encontrei no cais outra pessoa, que me pôs em um trem, sob os cuidados do condutor. Ele foi muito bom para mim, e me trouxe toda a comida que eu podia comer. Naquelas alturas, eu não tinha um centavo, e ele me deu uma quantia em dólar.
Viajei três dias naquele trem. Quando estávamos a quarenta ou cinquenta quilômetros da casa do meu pai, eu estava muito ansiosa. O condutor me trouxe um sanduíche, mais uma quantia em dólar e me ajudou a descer do trem com minha mala. Minha cidade natal era muito pequena, mas tinha crescido consideravelmente em vinte e dois anos. O trem partiu da recém-construída estação e eu fiquei na plataforma, sentindo-me muito sozinha, com medo e confusa. Respirei fundo e pedi informações a um homem sobre como chegar à casa do meu pai.
Eu tinha crescido em uma casa de madeira, mas aquela era de tijolo. Meu coração batia forte, e eu estava ofegante quando toquei a campainha. Um homem velho, recurvado, de pele enrugada e cabelos grisalhos abriu a porta, e eu perguntei pelo meu pai. Quando ele perguntou quem eu era, eu lhe dei não o meu nome do convento, mas meu nome verdadeiro. Lágrimas brotaram nos seus olhos, quando, pensativo e trêmulo, ele disse: “Hookie?” Este era o apelido que me deram quando eu era uma menininha. Abraçamo-nos, chorando de alegria pelo encontro. Quando perguntava pela minha mãe, ele se desviava do assunto, fazendo-me perguntas. Quando insisti, ele disse que ela estava muito doente, e então me levou para o quarto dela. Levei um choque quando a vi lá deitada, completamente paralisada, em estado deplorável. Estava pesando 30 quilos, e quase todo o seu lindo cabelo tinha caído. Ela parecia um esqueleto, e eu mal podia acreditar que aquela criatura pálida e magra era tudo que tinha restado da mãe linda e forte de quem eu lembrava.
Fiquei tonta, minhas vistas escureceram e eu quase desmaiei. Meu pai gentilmente me tirou dali e me levou para o outro quarto, onde me joguei na cama, chorando, e logo dormi. A excitação da minha volta para casa, unida ao choque de ver os meus pais, velhos e doentes, foi demais para mim. Às 14h30, acordei com uma forte dor. A enfermeira deu uma olhada em mim e disse ao meu pai para chamar imediatamente o médico da família. Ele era o meu padrinho e tinha feito o parto que me trouxe ao mundo. Ele se recusou a acreditar que eu era a Charlotte, até que viu a marca de nascença nas minhas costas. Fui levada depressa para o hospital, onde fiquei por catorze semanas.
Meu pai era um homem muito próspero e pagou todas as despesas. Meu padrinho indenizou aqueles estrangeiros que tinham me socorrido e me dado apoio. Além disso, como forma de agradecimento, meu pai enviou presentes a todos que tinham salvado a minha vida. Enquanto estava hospitalizada, fui submetida a uma segunda cirurgia no quadril esquerdo, por causa da tuberculose nos ossos. Quando a ambulância me levou para casa, fui colocada em uma cadeira reclinável, e meu pai me disse que eu devia comer e dormir, para me recuperar.
Ganhei livros para ler, mas, por mais que eu tentava, não conseguia reter nada do que lia. Tornei-me extremamente agitada e, após duas semanas, meu médico chamou o médico da família e disse a ele que que eu estava tendo um colapso nervoso, e que deveria ir para um sanatório. Meu pai se recusou, pois não queria que eu me fosse outra vez, depois de ter ficado fora por tanto tempo.
Eu estava muito magra, fraca e sem cabelo. Meus parentes me levavam bem rápido para o quarto de trás, para que não fosse vista, quando seus amigos apareciam. Eles tinham vergonha da minha aparência. Isso partiu o meu coração, e me entristeceu muito. Por causa disso, eu era muito tímida e bastante envergonhada. Todos os meus irmãos e irmãs tinham recebido educação, cursado faculdade, enquanto que eu fiquei trancada em um convento estrangeiro, rezando pela humanidade perdida, e derramando o meu sangue pelos pecados do mundo. De alguma forma, não era justo.
Depois que pude ser colocada em uma cadeira de rodas, e conseguia caminhar um pouco, uma das minhas irmãs marcou horário com um esteticista, para eu fazer tratamentos no couro cabeludo. Porém, quando eles puseram toalhas quentes e óleo na minha cabeça, fiquei inconsciente, pois estava muito doente. Meses de tratamento contínuo finalmente surtiram efeito e, um dia, o cabelo começou a crescer de novo. Após ter ficado mais apresentável, meus parentes começaram a comprar roupas caras para mim, e eu tive que aprender, tudo de novo, a como me comportar, como me vestir, etc.
Como meu quadro não estava apresentando uma melhora, meu pai finalmente consentiu que eu fosse para fora do país, a fim de ficar com meu tio John, que estava a quase mil quilômetros longe de nós. Morei lá por um ano, mas eu ainda tinha bem pouco cabelo na minha cabeça. Isso era motivo de muita vergonha e constrangimento para mim, e eu me isolava das pessoas. Um dia, meu tio pediu que eu visitasse alguns vizinhos com ele, mas eu fui para o meu quarto, pois tinha medo de ser rodeada por outras pessoas. Porém, como percebi que isto o magoou, mudei de ideia, me vesti e fui com ele.
Poucos dias depois, ele me pediu para pegar um pacote com aqueles vizinhos e, pela primeira vez, saí sozinha.  Depois de ter caminhado alguns quarteirões, senti que alguém estava me seguindo. Quando olhei em volta, vi quatro homenzarrões se aproximando de mim. Um deles me chamou pelo meu nome do convento, e advertiu que eu parasse e ficasse quieta. Fiquei tão paralisada, com aquele terror familiar, que não conseguia me mover. Eles se aproximaram rápido, me pegaram, dois de cada lado, e me jogaram dentro de um carro, entre o assento traseiro e o dianteiro.
Eles saíram em alta velocidade. Fui forçada a ficar deitada no chão, e eles me cobriram com um tapete sujo quando implorei por misericórdia. Enquanto estava ali, tomada pelo medo, percebi que aqueles homens na verdade eram quatro sacerdotes católicos em trajes comuns. Eles dirigiram aquela noite toda, mais o dia e a noite seguinte. Na manhã do segundo dia, entramos no subúrbio de uma grande cidade. Eu estava com câimbras e dores em todo o corpo, pois tinha sido forçada a ficar deitada de barriga para baixo durante aquela desordenada viagem.
Eu não tinha ideia de onde estávamos. Quando me deixaram sentar, estiquei devagar os meus músculos dormentes e minhas costas doloridas. Fiquei horrorizada quando vi que estávamos estacionados na frente de um convento. Meu coração desfaleceu e comecei a tremer de medo. Minha fuga foi toda em vão. Orei desesperadamente à Virgem Maria que eu tivesse um ataque cardíaco, e então clamei por São Judas, São Bartolomeu e todos os santos que conseguia me lembrar. Eles me tiraram bruscamente do carro, um de cada lado e, ao invés de entrarem no convento, caminharam vários quarteirões, rua abaixo. Finalmente, caminhando na ponta dos pés e olhando para baixo, fui levada até a entrada da casa do sacerdote, que ficava ao lado de uma grande igreja católica romana.
Eles me empurraram para dentro. Passamos pelo hall de entrada, pela cozinha, até chegarmos ao subsolo. Lá, abriram uma porta secreta, que estava trancada. Apareceu um túnel, que passava por baixo de muitos quarteirões, até dar no convento! Como de costume, eles estavam me levando secretamente, a fim de não deixar rastros, para o caso de estarmos sendo observados. Como sempre, eles enganam o mundo, ocultando as suas façanhas malignas e tenebrosas.
No final do longo túnel, havia uma outra porta, que não tinha como ser aberta. Contudo, um dos sacerdotes sabia exatamente onde estava localizado o botão secreto e, quando o pressionou, a grande e pesada porta abriu silenciosamente. Atrás dela, estava em pé a Madre Superiora, esperando em silêncio. Seu rosto cruel estava irado e apreensivo quando ela disse, furiosa: “Tragam-na”. Eu já tinha visto aquele olhar cruel muitas vezes, e era como uma reprise dos meus pesadelos de dor e sofrimento.
A Madre Superiora foi dali para uma outra sala sem dizer uma palavra e, grosseiramente, ordenou que eu me prostrasse. Eu não tinha escolha, e tive que obedecer, assim como tinha feito centenas de vezes antes. Ela tocou um sino, e duas freiras apareceram de repente. Uma delas pôs no chão, perto de mim, um objeto estranho. A Madre Superiora entregou uma corda para cada irmã, e elas amarraram meus pés e mãos com força. Elas estavam em silêncio e, obviamente, eram experientes em fazer aquilo.  O objeto que estava no chão era um maçarico, mas eu não sabia, pois nunca tinha visto um antes. A madre deu ordem, e uma freira o ligou. Uma freira me pegou pelos ombros, a outra, pelos tornozelos, e elas me levantaram. A Madre Superiora se aproximou e, olhando para mim, exigiu que eu pedisse desculpas pela minha perversidade, que estava arrependida de ter fugido do convento, e que prometesse que nunca mais ia fugir.
Eu nunca prometeria aquilo, pois sabia que ia fugir de novo na primeira  oportunidade que tivesse. Pela longa experiência, eu sabia que teria de encarar sofrimentos e tortura, não importando o que dissesse ou deixasse de dizer. Não havia misericórdia nem escape, independentemente de promessas. Eu conhecia muito bem as mentiras, enganos, hipocrisias e traições que acontecem em um convento. Tudo era planejado para enganar os desavisados. Não há absolutamente nenhum jeito de você opinar nem protestar.
Quando morre uma Madre Superiora, eles sempre têm três ou quatro substitutas em vista, sendo que uma delas ocupará o cargo. Elas sempre são escolhidas pela sua falta de compaixão e pela sua cruel, dura e desumana indiferença com relação ao sofrimento. Ela tem de ter provado lealdade total ao sistema e toda à sua podridão e ainda deve gostar de todas as práticas brutais.
Por três vezes, a Madre Superiora exigiu que eu jurasse, e eu respondi com um implacável silêncio. Ela deu ordem para que abaixassem meu corpo até o fogo do maçarico. Gritei e esperneei, tentando escapar do fogo nas minhas costas. Quando minha roupa pegou fogo, eu esperneei e me retorci de agonia, pois minha carne tinha queimado e ficado cheia de bolhas, enquanto as cruéis irmãs me seguravam firme em cima do fogo.
Finalmente, a Madre Superiora decidiu que eu já tinha me queimado bastante por ora, e me enrolou em um tapete imundo, para apagar as chamas. Eu estava como uma criatura selvagem, sofrendo com uma dor agonizante e inacreditável.
Depois de ter feito isso, as freiras me jogaram com violência no chão, e eu gritei ainda mais alto quando minha carne queimada e cheia de bolhas bateu no piso. Fui então levada para a enfermaria, onde me puseram em uma tábua. Fui posta de barriga para baixo, pois minhas costas estavam terrivelmente queimadas.
Meu tormento e minha agonia por causa das queimaduras eram indescritíveis. A madre e as freiras então saíram, fechando e trancando a porta. Mais uma vez, eu era prisioneira daqueles que viviam para infligir sofrimento e tortura nas suas vítimas indefesas.  Chorei, me lamentei e implorava por água quando as freiras passavam, mas elas não paravam, pois eram como robôs programados para ignorar o sofrimento. Os meus cruéis raptores pensaram que eu iria morrer com certeza, e eu também estava achando que sim. Como não morri, a Madre Superiora chamou um médico.
Eu sempre me pergunto quais tipos de mentira ela disse a ele para explicar a horrível quantidade de queimaduras no meu corpo. Ele veio por várias semanas, a fim de fazer curativos e tratar as queimaduras. Os infelizes dias se arrastavam, um após o outro. Foram vários meses até que eu pudesse andar. Logo no primeiro dia que comecei a andar, fui escoltada até o refeitório, onde a comida era servida. Como de costume, cada freira tinha o seu lugar à mesa, mas não havia um para mim. A Madre Superiora ordenou que eu caminhasse até um canto da sala. Lá, havia uma prateleira ajustável para uma freira e, sobre ela, estava meu copo de café preto e 100 gramas de pão. Tive que ficar com o nariz na parede enquanto comia minha escassa refeição.
À noite, quando fui trazida de volta ao refeitório, a mesa estava vazia, e a Madre Superiora me levou para outro lugar. Eles tinham tirado todas as minhas verduras do prato e posto no chão, junto com o copo de café e 60 gramas de pão. Eu tive que sentar no chão e comer ali mesmo, e isto se repetiu por meses. Um dia, pedi permissão para falar com a Madre Superiora. Disse a ela que não estava cometendo pecado, e que nem tinha quebrado nenhuma regra do convento. Ela me disse, de uma forma soberba, que, se guardasse todas as regras, um dia eu poderia ir ao pátio, para um curto período de recreação.
Eu tinha aprendido, anos antes, a nunca acreditar nas mentiras contadas pelas Madres Superioras nos conventos. Elas são mestres experientes da decepção, manipulação, sadismo e crueldade. Esta mesma madre depois me disse que eu deveria viver em constante sofrimento e penitência, pois eu tinha ousado fugir do convento.  Absolutamente tudo que ela me infligia era por vingança. Ela sempre fazia tudo que podia para me desconcertar completamente, e nada era mais cruel, doloroso e desumano do que ela planejava.
Certa manhã, como penitência, fui levada até um tanque de metal com água, que servia de banheira para as freiras tomarem banho. Fui ordenada a tirar a roupa, vestir uma camisola muçulmana e entrar no tanque. A Madre Superiora segurou a minha cabeça e mergulhou o meu rosto na água suja, então tirou, e depois mergulhou de novo. Eu quase não conseguia segurar o meu fôlego e ficava sufocada enquanto ela fazia aquilo continuamente. Fiquei tão exausta e tão fraca que não conseguia mais resistir nem lutar contra o medo da falta de ar e do afogamento. É difícil descrever a pressão física e mental desse tipo de castigo.
Duas freiras me puxaram para fora do tanque, sem forças, semiconsciente, tossindo, quase vomitando e respirando fundo para recuperar o fôlego. Elas me seguraram forte, enquanto outras duas freiras começaram a me bater cruelmente usando um açoite feito de tiras com pedaços de metal afiado, que retalhou a camisola muçulmana. Eu logo fiquei ensopada com o meu próprio sangue, pois estava violentamente machucada.
No convento, queixas e reclamações são extremamente proibidas, e acarretam duras punições. Então você aprende a suportar tudo sem esperança de ajuda. Eu contraí uma infecção no meu dedo, que crescia e piorava a cada dia. Terrivelmente inchada e dolorida, estava incomodando tanto que eu não podia mais ignorá-la. Tinha que ser lancetada, a fim de aliviar pressão. Naquele dia, fui escalada para fazer os trabalhos da cozinha, e eu sabia que tinha que por as mãos em água quente e ensaboada durante todo o dia, esfregando e limpando.  Quando pedi permissão para falar com a Madre Superiora, ela me olhou com fúria, mas consentiu.
Pondo meu dedo em cima da mesa de trabalho da cozinha para ela ver, expliquei que estava doendo horrivelmente e perguntei se não poderia trocar de tarefa com outra freira, para que o dedo ficasse longe da água quente até melhorar. Ela deu uma espiada e, num piscar de olhos, agarrou um cutelo e, antes que eu me desse conta do que estava acontecendo, cortou com selvageria o lado infeccionado do meu dedo. Perdi a consciência e desmoronei no chão. Não sei se as outras freiras ficaram com pena de mim, mas elas rapidamente me reanimaram. A Madre Superiora me agarrou com raiva e disse: “Agora pare de ficar inventando desculpas tolas e vá trabalhar!” Eu não tinha escolha a não ser obedecer e trabalhar o dia todo na água quente como uma escrava, desmaiando várias vezes por causa daquela dor constante.
E a vida continuava, um triste dia após o outro, com horríveis e agonizantes penitências sendo impostas uma após a outra, vindas dos instrumentos e da mente diabólica da implacável e cruel Madre Superiora. Para fazer o que fazem, essas mulheres medonhas só podem estar completamente possuídas por demônios.  Um dia, fui levada outra vez para a sala do forno, onde havia um fogão a lenha. Aquela sala também era usada como câmara de tortura e, como de costume, minha roupa foi baixada até a cintura. Fui forçada a por os meus braços em volta de um comprido tubo de água quente, e minhas mãos e pés foram amarrados com força nele. A Madre Superiora então pôs uma barra de ferro no fogo. Depois que a barra estava vermelha de tão quente, ela cuidadosamente fez três cruzes nas minhas costas, pondo a barra de volta no fogo toda vez que esfriava. De novo, gritos horríveis saíram da minha garganta, além de inúteis pedidos de misericórdia, já que, naturalmente, não havia nenhuma. Meu nariz sentiu de novo aquele forte e nauseante cheiro da minha própria carne sendo queimada. Terríveis sentimentos de raiva e puro ódio pelos meus atormentadores tomaram conta de mim.  Depois de mais de vinte e oito desesperadores e miseráveis meses de prisão, aquelas pessoas cruéis tinham intentado me destruir pela segunda vez. Para quem nunca passou por isso, é muito difícil entender a total desesperança que vivi.
Um outro dia, a Madre Superiora reuniu dezoito de nós e mandou que a seguíssemos. Como de praxe, estávamos com medo, pois nunca sabíamos o que nos esperava quando ela nos chamava. Seguimos em silêncio os passos dela, e ela nos levou até a cozinha do primeiro andar. Depois de nos entregar sete grãos de feijão, ela destravou a porta que dava para o pátio. Finalmente, estavam nos deixando ter um período de recreação!
Mal podíamos conter a nossa alegria e admiração enquanto caminhávamos, pela primeira vez sentindo o ar fresco e a luz do sol. Pode parecer estranho para quem nunca foi privado dessas coisas tão comuns, mas tínhamos dado apenas uns poucos passos no pátio e já nos sentíamos entusiasmadas naquela exuberante grama verde, não parando de cheirar e de tocar nela.  Parecia que estávamos no céu. Era inacreditavelmente maravilhoso e satisfatório para os nossos sentidos a tanto tempo trancafiados dentro das cavernas e das paredes do convento. Deitamos, uma do lado da outra, desfrutando o ar, a grama e a luz do sol, e deve ter sido bem estranho nós lá daquele jeito. Nós estávamos literalmente encantadas com tudo.
Enquanto estávamos lá deitadas, um caminhão de carvão parou em frente ao pesado portão de ferro do pátio. Um homem tirou um carrinho de mão do caminhão e começou a trazê-lo. Depois de ter destrancado o portão, ele o abriu e trouxe o carrinho até a rampa do porão, que ficava no canto do prédio. Ficamos lá deitadas quietas, e demos uma olhada rápida, para ver o que estava acontecendo. Viramos rápido a cabeça para o lado, pois era pecado castigável olhar para qualquer homem que não fosse um sacerdote ou bispo.
Um pensamento louco veio à minha mente. Eu podia sair pelo portão aberto, enquanto ele fazia suas repetidas idas e voltas à rampa. A indecisão me deixou paralisada. Porém, eu não podia me mover porque estava bastante condicionada pelo medo de obedecer às regras. Ele fez várias idas e voltas e, finalmente, pôs o carrinho de mão no caminhão e fechou o portão. Meu coração desfaleceu quando ouvi o som do portão sendo fechado. Entretanto, tive um sobressalto. Minha audição tinha se tornado tão aguçada depois de permanecer no silêncio do convento que me pareceu que o portão fez um barulho diferente quando fechou. “Será que ele fechou e não trancou? Era impossível, mas, suponhamos que fosse verdade?”
Com esses pensamentos surgindo na minha mente, meu coração estava batendo tão forte que dei uma olhada rápida nas outras freiras, para ver se elas tinham ouvido. Porém, elas ainda estavam desfrutando a grama verde, a luz do sol e o ar fresco, e não tinham notado nada. Coloquei-me de pé, movendo-me devagar para não incomodá-las, e fui até o portão.
Dei uma olhada furtiva para o convento, a fim de ver se estava sendo observada. Quando estava me aproximando do portão, entrei em pânico e comecei a correr. Quando cheguei ao grande portão e o empurrei, ele abriu tão fácil que perdi o equilíbrio e caí, arranhando o rosto, as mãos e os joelhos. Levantei rápido e fechei o portão, ouvindo o barulho da trava. Eu não queria chamar a atenção ao sair correndo, mas meus pés debandaram pela calçada.  Era incrível! Eu estava livre mais uma vez! Finalmente, eu estava fora das muralhas do convento.
Estava um dia lindo, mas ventando muito, fazendo com que o uniforme e o véu tapassem o meu rosto. Eu mal podia ver para onde estava indo. De repente, esbarrei em um homem e, em desespero, agarrei nos braços dele e disse, com uma voz assustada: “Por favor, me ajude! Esconda-me depressa. Acabei de fugir do convento”. Isto o deixou assustado. Ele estava estarrecido, mas disse: “Venha comigo, que vou te colocar no meu celeiro”. Ele tinha acabado de por um carregamento de feno no celeiro, e eu comecei a subir a escada, para me esconder no sótão. Ele me interrompeu, dizendo que tinha um lugar melhor para eu ficar.  Eu o acompanhei até a sua casa, onde ele rapidamente explicou para a sua esposa o que estava acontecendo. Eles então me levaram até a cozinha, abriram a tampa do teto, que ficava no canto, e me esconderam no sótão.
Este precioso casal, com seus trinta e poucos anos, foram muito bons para mim. Eles me levaram travesseiros, cobertores, comida e água. Fiquei lá escondida a noite inteira e todo o dia seguinte. Ao anoitecer, disse a eles que eu deveria seguir o meu caminho, fugindo noite adentro. Foi com eles que fiquei sabendo, pela primeira vez, onde tinha estado aprisionada por mais de dois anos. Eles me deram mapas e, ao checarmos, descobri que tinha sido sequestrada a mais de mil quilômetros dali. Os mapas foram então anotados, a fim de que eu pudesse achar o caminho de volta para a casa do meu tio John.
A mulher preparou uma caixa de sapatos com comida, deu-me 75 cêntimos e insistiu que eu vestisse uma roupa dela para viajar. Eu ainda estava sem cabelo, então ela me deu uma touca. Eu tive que partir descalça, pois eu não tinha sapatos nem meia, e meus amigos não tinham nada que servisse em mim. Sem dúvida, eu estava com uma aparência esquisita, usando uma roupa de tamanho três vezes maior do que o meu, quando comecei minha jornada para tentar pegar uma carona segura para fora do país.
Caminhei até meus pés doerem, e eu estava tão cansada que senti que não podia mais continuar. Quando parei em uma casa, pedindo permissão para dormir na varanda ou na garagem, a mulher deu uma olhada em mim e fechou a porta na minha cara. Cansada, desanimada, com medo e profundamente desencorajada, voltei a caminhar. O que me fazia seguir em frente e não desistir era  pensamento dos horrores que estavam atrás de mim.
Aquelas pessoas, na segurança das suas aconchegantes casas, com suas camas confortáveis e de barriga cheia não podiam imaginar o que estava se passando tão perto delas. A verdade era terrível demais para ser aceita, então as pessoas boas simplesmente a rejeitavam. Exausta, cambaleei e quase caí. As luzes de uma determinada casa se apagaram. Então, deitei-me ali perto, para dormir um pouco. Eu estava contente por ter trazido o meu pesado uniforme de freira, pois ele me serviu de cobertor contra o gélido frio da noite. Quando amanheceu, levantei, nervosa, e de novo comecei a caminhar. Eu estava com muito medo, pois não sabia o que as pessoas podiam me fazer. Depois que já tinha comido tudo que tinha trazido comigo, comecei a pedir comida ao longo do trajeto. Alguns eram gentis e me davam uma boa refeição. Outros se recusavam abruptamente e batiam a porta na minha cara.
Passaram-se dias e semanas enquanto eu percorria com dificuldade a zona rural. Ninguém me ofereceu calçados, e meus pés estavam doendo tanto que eu chorava e pedia para morrer. Por catorze semanas, eu caminhei e peguei carona, implorando por comida e por um lugar para dormir. Finalmente, de acordo com os meus mapas, eu estava a uns 40 ou 50 quilômetros da casa do tio John. Perguntei na estação ferroviária se havia um trem para a casa do tio John, e descobri que chegaria um dentro de cinco horas. Da escassa quantia de moedas que haviam me dado, comprei uma passagem e deitei no banco da estação, a fim de dormir. Embora eu estivesse faminta, ninguém me ofereceu comida.
Peguei o trem e, quando cheguei à casa do tio John, ele disse: “Meu Deus Charlotte, de onde você veio?” Então ele me mostrou uma carta do meu pai, a qual afirmava que o meu próprio pai tinha me mandado de volta para o convento. A carta dizia que eu estava em boas mãos e que eles sabiam onde eu estava. Meu pai estava aterrorizado, pois minha inválida mãe estava muito doente. Toda vez que algum membro da família, especialmente o meu pai, ia se confessar, o sacerdote afirmava categoricamente: “Não haverá absolvição para o seu pecado enquanto Charlotte não voltar para o convento.” O sacerdote assegurou ao meu pai que, se minha mãe morresse, ela não iria para o purgatório, mas direto para o inferno. Meu atormentado pai acreditou nisso e desesperadamente temeu esta terrível sentença proferida contra a sua amada esposa. Para ele, me denunciar para o convento não era pior do que condenar minha mãe ao inferno. Quando ouvi isso, me enchi outra vez de ira e energicamente disse ao meu tio que nunca mais queria ver o meu pai. Eu estava com raiva, profundamente magoada e me sentimento terrivelmente sozinha […]
Como eu estava muito doente, meu tio me internou no hospital. Ele pagava as contas, cuidava de mim, me alimentava e me vestia. Depois que voltei para casa, meu tio ficou muito enfermo, e o médico disse que ele teria de ir para o hospital. Implorei ao médico que deixasse meu tio em casa, que eu cuidaria dele. Era a minha vez de retribuir a bondade dele para comigo. O médico concordou, mas meu tio piorava cada vez mais.
Em poucos dias, ele me chamou e disse: “Querida, estou indo para casa, morar com o Senhor. Quero que chame seu pai e diga a ele que meu funeral será nesta igreja aqui”. Ele me disse qual coveiro chamar e ainda mencionou o que queria que fosse feito no funeral. Eu estava espantada, não acreditando no que estava ouvindo. Ele sorriu, olhou para mim, e depois fechou os olhos.
Quando percebi que ele estava morto, fui invadida por uma tristeza profunda. Aquele homem era tudo que eu tinha na vida. Toda a minha precária segurança se foi. Eu estava perdida e tinha sido traída por todos, exceto por aquele homem. Senti que tinha sido tirado de mim tudo o que eu tinha de precioso neste mundo. Em volta daquele corpo sem vida, comecei a gritar histericamente, e com fúria: “Se tu existes, Deus, por que o tirastes de mim? Ele é tudo o que eu tinha. Não é justo! Não é justo!”
Finalmente, me acalmei e comecei a seguir as instruções do meu tio. Liguei para o pastor; para o coveiro; providenciei o caixão; mandei telegramas e fiz todos os preparativos para o funeral. Tio John nunca disse aos seus parentes que tinha deixado a Igreja Católica, pois ele estava ciente que seria rejeitado. Mas é claro que eles já sabiam disso, pois nenhum parente sequer veio ao funeral, nem enviou flores. As pessoas da igreja sabiam do meu profundo apego ao meu tio, e alguns deles ficaram comigo na casa, por seis semanas. Quando tiveram de ir embora, fui avisada que poderia pegar qualquer coisa que precisasse no supermercado, que eles pagariam a conta.
Sete meses após a morte do tio John, implorei ao médico que me deixasse voltar a trabalhar. Eu odiava depender dos outros, e ansiava por assumir as minhas próprias responsabilidades. Fui para o estado vizinho, fiz e passei em um teste para enfermeira. Em questão de dias, fui contratada por um grande hospital católico romano. Apesar de todas as fervorosas orações do tio John, eu ainda não estava salva.  Trabalhei lá por três anos, e já era capaz de me manter. Foi uma sensação maravilhosa, pois, por muito tempo, estive doente e dependendo dos outros. Uma pregadora da Assembleia de Deus veio para fazer uma cirurgia, e eu fui designada para ser a sua principal enfermeira. Depois da cirurgia, ela acordou louvando a Deus pela sua vida e pediu que eu lesse a Bíblia em voz alta. Comecei a tremer enquanto lia, pois, como uma freira católica romana, eu era proibida de ler a Bíblia. Apesar disso, eu lia a Bíblia diariamente para ela, durante os dez dias que ficou hospitalizada. Fui contratada para cuidar dela em casa também.
Quando ela se recuperou, acompanhei-a até uma igreja, no centro da cidade. Eu tinha sido ensinada que todos os não católicos são hereges. Por isso, eu só sentava na última fileira. Tendo em vista que eu ia todas as noites, minha patroa me deu uma Bíblia. Em casa, eu tinha o hábito de descer ao porão para ler […] Minha amiga me levou ao correio, onde enviei um telegrama ao meu pai, comunicando que não era mais uma católica romana […]
Três dias depois, sentada à janela, vi um carro parar na frente de casa. Meu pai e dois sacerdotes católicos romanos saíram do carro e começaram a vir. Assustada, corri depressa para a cozinha e disse à minha amiga que eles estavam atrás de mim. Ela me disse calmamente para ir até à porta e convidá-los a entrar […] que não havia nada a temer.  Fiz como ela disse e os conduzi até à sala de estar. Meu pai logo falou: “Charlotte, viemos te levar para casa.” Respondi: “Papai, não vou para casa com o senhor. Vou ficar bem aqui […] Quero aprender mais sobre Deus e o evangelho de Jesus Cristo”. Eles certamente pensaram que eu ainda era o mesmo robô em que tinha me tornado depois de passar pela lavagem cerebral no convento!
Meu pai olhou para mim, confuso, e disse: “Charlotte, dirigimos mais de 1000 quilômetros para vir aqui e te levar para casa, que é onde você pertence”. Depois de ter repetido firmemente ao meu pai que em hipótese alguma eu ia retornar com eles, o mais velho dos dois sacerdotes deu um pulo e ficou de pé. Ele gritou furioso para mim: “Você deve saber muito bem o que acabou de fazer! Você amaldiçoou a sua alma e vai passar a eternidade no inferno. Um dia, você vai voltar rastejando para a santa Igreja Católica e implorar que novenas sejam feitas em seu favor. Um dia, você vai querer ir ao confessionário para ser absolvida dos seus horríveis pecados”.
Eu já tinha ouvido demais das loucas ameaças daquele sacerdote. Estendi minha Bíblia para ele e o desafiei: “Se você me mostrar uma passagem da Bíblia Sagrada em que Deus diz que tenho de confessar os meus pecados para um homem, vou me ajoelhar na sua frente agora e voltar rastejando para uma igreja católica romana!” O rosto dele ficou vermelho e, num acesso de raiva, ele arrancou a Bíblia da minha mão e a jogou no chão. E começou a pisotear a minha linda Bíblia, e a fazê-la em pedaços com os pés. Se ele tivesse pisado no meu rosto, não tenho dúvida de que teria doído menos do que doeu ao ver aquilo […]
Se os sacerdotes da Igreja Católica pudessem, eles organizariam uma expedição de casa em casa, pegariam todas as Bíblias, jogariam gasolina e ateariam fogo nelas. Quando eles estavam no poder, as Bíblias não eram permitidas.  O sacerdote começou a proferir sobre mim todas as maldições da excomungação da Igreja Católica, pois eu tinha vestido um traje santo e ousado tirá-lo. Primeiro, ele amaldiçoou os meus olhos, dizendo que apodreceriam e cairiam. Chorei histericamente de medo, pois eu ainda não conhecia muito bem os ensinamentos da Bíblia. Quando fugi do convento, eu tinha apenas 4% de visão no olho esquerdo, e 8% no direito. Eu estava praticamente cega por causa do constante tratamento que recebia das mãos da diabólica Madre Superiora. Foi por isso que aquela maldição me assustou.
Em seguida, o sacerdote amaldiçoou cada órgão do meu corpo, e ordenou que vermes devorassem todos eles. Ele cantarolou: “Pela autoridade de Deus Pai Todo Poderoso; do Filho e do Espírito Santo; dos sagrados cânons e de todos os incorruptos; da Virgem Maria, Mãe de Deus; e de todos os apóstolos, evangelistas e santos inocentes que, na presença do Cordeiro, são achados dignos de cantar os novos cânticos; e de todos os santos mártires e confessores; e de todas as santas servas do Senhor (essas são as freiras e as irmãs); e de todos os santos que estão junto com o eleito de Deus; nós excomungamos Charlotte da Igreja Católica Romana; que ela seja atormentada para sempre no sofrimento eterno, onde o fogo nunca se apagará”. “Que Deus Pai, que criou o homem, a amaldiçoe. Que o Filho de Deus, que sofreu pelo homem, a amaldiçoe. Que o Espírito Santo, que nos foi dado no batismo, a amaldiçoe. Que a santa cruz, de onde Cristo desceu e triunfou sobre seus inimigos, a amaldiçoe. Que a Santa Mãe de Deus, a eterna Virgem Maria, a amaldiçoe. Que São Miguel, guardião das almas dos santos, a amaldiçoe. Que os anjos, arcanjos, principados, potestades e todos os exércitos celestiais a amaldiçoem. Que todos os patriarcas e profetas a amaldiçoem. Que São João, o precursor e batizador de Cristo, e São Pedro, São Paulo, Santo André e todos os apóstolos de Cristo, juntamente com os outros discípulos, inclusive os quatro evangelistas, cuja pregação converteu o mundo inteiro, a amaldiçoem”. “Que os marchantes e confessores, que, por suas boas ações, agradam a Deus, a amaldiçoem. Que o coral das santas servas do Senhor (freiras e irmãs) que, por honrarem a Cristo, renunciaram as vaidades do mundo, a amaldiçoe. Que todos o santos que, desde o começo do mundo até a eternidade são amados por Deus, a amaldiçoem. Que os céus e a terra e todas as coisas santas a amaldiçoem”. “Que ela seja amaldiçoada aonde quer que vá; quando estiver em casa; quando estiver no campo; quando estiver na estrada; quando estiver na rua; quando estiver no bosque; quando estiver na água; quando estiver na igreja. Que ela seja amaldiçoada em vida. Que ela seja amaldiçoada ao comer. Que ela seja amaldiçoada ao beber. Que ela seja amaldiçoada na fome, na sede, no jejum, no sono, no cochilo, ao estar acordada, ao caminhar, em pé, sentada, deitada, trabalhando ou descansando”.
Isso foi falado em latim. Algumas frases que ele disse são tão vulgares que é indecente até mesmo repeti-las. É claro que tudo isso vem direto das profundezas do inferno. As outras cinco partes, que vou omitir, saíram com naturalidade da boca daquele sacerdote católico romano, vestido com o seu “santo” uniforme.
As maldições continuaram: “Que todo o corpo dela seja amaldiçoado. Que ela seja amaldiçoada tanto por dentro quanto por fora. Que os cabelos da cabeça dela sejam amaldiçoados. Que o cérebro dela seja amaldiçoado. Que toda a sua cabeça seja amaldiçoada, as têmporas, a testa, os ouvidos, as sobrancelhas, as bochechas, as mandíbulas, o nariz, os dentes, tanto os caninos quanto os molares, os lábios, a garganta, os pulsos, os braços, as mãos, os dedos, os seios, o coração, e todas as partes internas até o estômago, os rins, a virilha, as coxas, os quadris, os joelhos, os pés e as amígdalas”. “Que ela seja amaldiçoada do topo da cabeça até a sola dos pés. Que não haja mais saúde nela. Que Cristo, o Filho do Deus Vivo, a amaldiçoe com todo o seu santo poder (isso foi o que mais doeu)”.  Durante todo esse pronunciamento de maldições e condenação, meu pobre pai ficou ali em pé, parado e mudo, como uma estátua. Ele estava completamente preso pelas tradições, trevas, superstição, ignorância e ilegitimidade do catolicismo romano.
Quando o sacerdote terminou suas horríveis condenações, eu estava tremendo de medo e chorando histericamente […]
Foi em 1946 que meu pai foi embora com aqueles dois sacerdotes, deixando-me com o coração partido […] Sete sacerdotes apareceram em casa para me ameaçar e me convencer a voltar atrás. Depois que eles foram embora, chorei o dia todo, até ficar com o rosto inchado e os olhos vermelhos. Comecei a aprender como é forte e persistente uma alma presa a um sistema religioso diabólico. Tenham em mente que fui capturada por esta religião já a partir do nascimento, e estava totalmente dominada pelo poder deste sistema perigoso.
[…] recebi um telegrama informando que meu pai tinha morrido, e sobre quando seria o funeral. Meu pai me excluiu da herança quando me recusei a ir embora com ele e com os dois sacerdotes. Fiquei com medo de ir ao funeral, pois era há mais de 1000 quilômetros de onde eu estava. Mas enviei algumas flores. Quando soube que meu pai havia me excluído do testamento, minha mãe abriu mão de $12.000 seus para me dar. Eu nem sabia que ela tinha dinheiro e, quando o advogado dela me contatou para falar sobre isso, chorei de alegria. Com aquele dinheiro, pude comprar um carro usado e roupas novas, e apliquei o restante no banco.
Antes de ir embora, a irmã Nila, uma jovem evangelista pentecostal, convidou-me para ir visitá-la, quando eu estivesse em Chicago. Eu disse a ela que poria um anúncio para vender meu móveis e minhas coisas no apartamento. Na primeira manhã, vieram dois sacerdotes, não para comprar, mas para me molestar. Ameacei chamar a polícia, caso eles não fossem embora. Na manhã seguinte, veio outro sacerdote, me importunando e tentando colocar medo nesta ex-freira, que tinha aparecido em público em uma Igreja Pentecostal […]
Contratei uma mulher para ficar no meu apartamento, até que tudo estivesse vendido. Arrumei as malas e fui para um grande hotel, ali próximo. Conheci pessoalmente o dono do hotel. Disse a ele para não deixar ninguém entrar no meu quarto, e que eu receberia os visitantes no salão.
Numa manhã, o telefone tocou e fui avisada que três pessoas tinham vindo me ver. Quando desci, lá estava o meu irmão, o sacerdote, vestido com o seu manto, e duas irmãs minhas. Elas viraram as costas para mim, mas ele veio caminhando na minha direção. Minha mãe tinha morrido de um derrame há duas semanas. Ele me disse, furioso: “Acho que você sabe o que fez”. Ele começou a me menosprezar e falou que eu estava amaldiçoada para sempre e que, com certeza, eu queimaria no inferno para sempre por causa disso. Ele também disse que eu tinha mandado a minha mãe cedo para a sepultura. Imaginem, minha mãe ficou completamente inválida por sete longos anos enquanto eu estava presa em um convento estrangeiro! Ele estava furioso comigo e fez severas acusações, usando palavras duras e desagradáveis.
Depois de ter descarregado o seu rancor em mim, ele se virou para ir embora. Segurei-o pelo braço e disse: “Espere um minuto, Chet. Quantas mulheres você já destruiu no confessionário? Sei dos sacerdotes que vão para as casas quando os maridos não estão”. Ele ficou vermelho de raiva e me fitou com um olhar de ódio. Continuei: “Chet, você já esteve em um convento? Já tirou a virtude de uma jovem freira?” Ele bufou de raiva, cerrou o punho e me deu um violento soco. Ele era um homem forte, com mais de um metro e oitenta, então fiquei com um olho roxo e um enorme nódulo na cabeça quando caí no chão por causa daquele soco. O homem que estava no balcão viu tudo e veio correndo me defender. Ele disse coisas terríveis para o meu irmão, mandou que saísse do hotel e que nunca mais voltasse.
Peguei um trem para Chicago. Lá, hospedei-me em um hotel perto da congregação onde a irmã Nila estava trabalhando. Eu ia lá todas as noites e, depois que me convidou, fui com ela visitar a sua família. De lá, fomos para uma congregação em Wisconsin.  Alguns dias depois, recebi a ligação de um advogado, dizendo que um membro da minha família estava me processando por causa do dinheiro que minha mãe tinha deixado para mim. Depois de uma briga na justiça, eles tomaram todo o meu dinheiro, meu carro e minhas roupas. Chorei por causa da ganância e da falsidade deles […] Aceitei o convite da irmã Nila para viajar com ela pelos próximos trinta meses. Pouco tempo depois, recebi um telegrama. Minha irmã mais nova estava me pedindo para voltar para casa, pois meu pai estava perguntando por mim. Lembrem que, tempos atrás, eu tinha mandado uma coroa de flores para ele, pois tinha recebido a notícia de que meu pai estava morto. Isso me deixou chocada. Minha família tinha intencionalmente me feito acreditar que meu pai já tinha morrido. Quando cheguei, minha irmã me disse que meu pai ainda estava vivo, com seus oitenta e poucos anos, bastante independente e muito bem financeiramente. Eu estava apreensiva sobre como ele me receberia. Contudo, quando o vi, ele me abraçou e disse: “Hookie, você está formidável!” Ele estava saindo para uma viagem, a fim de ver os outros filhos, e eu estava muito feliz pelo nosso encontro.
Depois que voltou para casa, dois meses depois, ele me escreveu, pedindo que viesse vê-lo […] ele me pediu perdão por tudo que a minha família tinha feito […]
Mais tarde, quando chegamos à costa ocidental, orei a Deus antes de ligar para o meu irmão, o sacerdote católico. Ele pediu que eu o perdoasse por ter me batido no hotel. Naquela noite, dirigimos doze quilômetros até a sua casa, onde ele estava nos esperando na frente. Ele veio correndo na direção do carro, me abraçou e perguntou, ansioso: “Ah, Charlotte, você me perdoa mesmo?” Assegurei a ele que sim.
Fiquei sabendo que, por sete anos, ele viveu em adultério com a sua empregada. Quando ouvia as confissões dos seus paroquianos, ele se sentia cada vez mais hipócrita e culpado. Finalmente, ele notificou ao Papa que estava deixando o sacerdócio e a Igreja Católica Romana. Um bispo veio e o aconselhou a se retirar em um mosteiro na América do Sul, para refletir e reconsiderar a sua decisão, mas ele se recusou. Seis meses depois da sua excomunhão, ele se casou […]
Ele me levou para ver a minha irmã Connie, que logo disse: “Não quero nada com você. Sou católica romana e vou morrer católica romana”. E me mandou embora. Dezoito meses depois, ela foi levada para o hospital, a fim de fazer uma cirurgia de dois nódulos na tireoide. Suas cordas vocais foram afetadas, deixando-a sem poder falar, e ela também ficou cega dos dois olhos. Seis semanas depois, a artrite deformou as mãos e os pés dela. Os médicos endireitaram os pés, mas ela ainda não conseguia andar nem falar. Ela fez terapia durante um ano, para voltar a falar.
Com o passar dos anos, recebi muitas cartas rancorosas da minha família. Cada vez que recebia uma, eu ficava muito chateada depois de ler. Finalmente, parei de abri-las, e comecei a por todas em uma caixa, que guardava dentro de um cofre […] Obrigado, Senhor, pois não há mais sacerdotes católicos romanos na minha vida; não há mais confessionário; não há mais hóstias; não há mais adoração nem rezas para a Virgem Maria e todos os outros “santos”.
Obrigado, Senhor! Não há mais purgatório. O único purgatório que os católicos tem que encarar é o bolso dos sacerdotes. Nos Estados Unidos, novembro é o mês do purgatório e, neste período, os sacerdotes arrecadam cerca de $22.000.000.00, rezando missas para os mortos. Muitos tem pagado regularmente essas missas, durante vinte ou vinte e cinco anos, e eles são informados que seus entes queridos ainda não estão no céu. Esta terrível doutrina forçará os fiéis a pagarem cada vez mais, a fim de assegurar que seus parentes sejam libertados. Esta é uma das mais cruéis artimanhas religiosas que os demônios arquitetaram para enganar os seres humanos. É incrível a escravidão e o medo gerado por este falso ensinamento.
Chega de escapulários, graças a Deus! Todo sacerdote, bispo, freira de ordem aberta ou fechada e os prelados da Igreja Católica Romana usam escapulário, que é um pedaço de pano marrom sujo, com uma abertura no meio. A cabeça entra por essa abertura, e o escapulário, depois de vestido, pende para frente e para trás. A partir do momento que entrei para o convento, eu usava um constantemente. Mesmo depois de ter escapado do convento estrangeiro e de ter voltado para os Estados Unidos, eu continuava usando o escapulário […] tirei o escapulário, rasquei-o e queimei. Eu não precisava mais daquela relíquia de um passado de escravidão e trevas […]  Chega de água benta! Isso era para afastar todos os espíritos maus, e havia litros e mais litros de água benta guardados nos conventos. Depois que os sacerdotes voltavam de algum lugar, a Madre Superiora dava garrafas de água benta para seis ou oito freiras e ordenava que espargissem-na por todos os lugares onde os sacerdotes tinham caminhado, isso para o caso de espíritos maus terem vindo junto com eles.
Chega de se prostrar e fazer súplicas a ídolos mudo

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