1 de mar. de 2015

Não a religião...e i que é, e onde está a VERDADE?

Do ponto de vista da tradição esotérica, a inteligência não é privilégio humano, mas constitui um principio cósmico presente em tudo o que existe.
A ciência já demonstra que todo o universo é lógico, matemático e constituído segundo proporções magicamente harmoniosas. A inteligência humana é a capacidade de compreender e entrar em sintonia, dentro das limitações do nosso estágio de evolução, com esse fato divino e ilimitado.
A partir do fato de que somos todos partes de algo maior, micro cosmo e macro cosmo, alguém já escreveu que a mente humana, na verdade, é o instrumento pelo qual o próprio universo olha para si mesmo e pensa na sua existência. Os upanixades indianos afirmam que o homem sábio não ama seus filhos apenas por si mesmos, mas vê e ama, neles, a presença do Espírito universal e eterno. Para os upanixades , o sábio tampouco ama sua esposa como um ser isolado, mas reconhece no centro da alma dela a marca da alma do universo. Assim, se formos sábios, saberemos amar nossa cidade, nosso país, a humanidade, os amigos, os animais ou as florestas não como realidades separadas, mas como partes de um todo cósmico em que estamos amorosamente imersos e em que vivemos como peixes na água.
Amar é ultrapassar a barreira da separação que existe no plano físico. Os níveis de consciência humana são aparelhos que nos permite sintonizar o universo, e todas as nossas percepções e atividades existem apenas para acelerar o desenvolvimento da nossa alma imortal.
O ser humano é como um prédio vivo de sete andares, cujo nível “térreo” é o corpo físico denso. Logo acima dele está o principio vital, o prana, a vida que nos faz respirar. Subindo mais encontramos o nosso principio emocional, que “lê” o universo ao seu redor com a linguagem dos sentimentos. Um andar mais acima, temos o principio mental concreto, que vê o mundo como fatos e idéias de curto prazo, e gira em torno dos cinco sentidos e da memória pessoal. Sua missão é buscar o bem-estar material e emocional do indivíduo.
Subindo mais um andar, chegamos à parte considerada “imortal” do prédio. De acordo com a teoria da reencarnação, ela flutua nos céus quando não está apoiada no plano físico, entre uma vida e outra. Uma das imagens descritivas da anatomia oculta do ser humano é que ele é como uma árvore com as raízes para o alto e a copada apontada para baixo, isto é, para o mundo físico. No final de uma vida, ele volta às suas raízes, às origens, ao céu, e descansa até que chega o momento de florescer outra vez em uma nova primavera física. Em compensação, nessa nossa imagem de um prédio de sete andares, temos um estranho edifício que pode ficar flutuando quando perde seus andares inferiores.
No quinto andar, do mental superior, a atmosfera já é diferente, e a visão que se obtém do mundo é muito ampla. Aqui trabalha o principio chamado em sânscrito de manas , a mente abstrata, que “lê” o universo na sua condição filosófica, lógica, geométrica e matemática. No sexto andar funciona o princípio búdico, crístico ou intuitivo. Para buddhi, o mundo já não é um desfile de fatos concretos, sensações, emoções e pensamentos. A intuição superior mergulha diretamente na realidade primordial, porque é feita com a mesma realidade essencial que está presente em todas as coisas aparentemente diversas. É este princípio búdico da compaixão e da solidariedade que dá sentido e significado, em última instância, às nossas pobres existências pessoais.
No sétimo andar temos o princípio cujo nome em sânscrito é atma. O nível de consciência mais elevado do ser humano e a presença em nós do principio supremo dos universos. Atma é o todo, é a realidade suprema misteriosamente presente em nós. Ele é feito com a mesma matéria prima da vontade que mantém as galáxias em movimento, e é , ao mesmo tempo, a fonte da nossa vontade de agir corretamente em cada situação da nossa existência pessoal. Assim os andares superiores do nosso “prédio” são ocupados respectivamente pela inteligência espiritual, o amor espiritual e a vontade espiritual.
Podemos até dizer que estes andares são quando adquirimos a superconsciência, ou melhor, nossa consciência se comunica com o inconsciente, dando acesso a um conhecimento total do tudo relativo e nos interligando no inconsciente coletivo de Jung, nos fazendo parte da inteligência universal, num processo de troca consciente.
Tudo é inteligente no universo, e a vida vegetativa do nosso organismo físico não é exceção. O nosso fígado, o estômago, os rins, os pulmões , o coração e o cérebro trabalham para nós coordenadamente e em equipe, do início ao fim da vida. O nosso comportamento pessoal é que nem sempre está à altura dessa equipe de trabalho maravilhosa. Há uma inteligência das células e uma inteligência dos átomos. Nada escapa das leis da inteligência universal. Na verdade de tudo, é que somos formados por partes inteligentes em nós, mas também dentro de um processo evolutivo. Cada um de nós somos um universo particular.
A inteligência aparentemente separada e aprisionada dentro de uma cápsula de preocupações consigo mesma, que chamamos de “eu”, só surge depois que a vida ultrapassa o reino animal pré-racional. Nossos cachorros e gatos domésticos, por exemplo, estão relativamente próximos de sentir-se como “eus” separados, mas ainda não chegaram a esse ponto, que é privativo do reino humano. Eles já têm suas primeiras idéias, assim como os cavalos, as vacas, os golfinhos e outros mamíferos, mas seus pensamentos ainda são relativamente esparsos e simples. Só os seres humanos levaram às últimas conseqüências a noção da separatividade e a experiência de “solidão”. A separatividade pode ser uma perspectiva ilusória, mas constitui um estágio necessário da nossa evolução.
Agora, a partir do terceiro milênio , a humanidade foca sua consciência cada vez mais na mente abstrata, manas , a inteligência universal. Assim redescobrimos gradualmente a unidade essencial de todas as coisas, embora já não usando o instinto animal, e sim a intuição espiritual. A humanidade começa a retornar o contato consciente com o mundo divino e sua inteligência transcendental. A vanguarda da nossa civilização já supera a dolorosa experiência de separação e isolamento necessária aos primeiros estágios de desenvolvimento mental, marcada pelas funções de separar, classificar, rotular, escolher, rejeitar. A mente que cria e sintetiza, instalada no hemisfério cerebral direito, volta a tomar iniciativa e a orientar o foco da consciência. Essa mente é despertada por inúmeros fatores e processos, completamente diferentes entre si na aparência, mas que confluem para a formação de uma nova consciência. Entre eles estão:
Os estudos espiritualistas
  • O pensamento ecológico
  • A nova ciência física e biológica
  • A nova psicologia
  • A revolução da informática
  • A nossa capacidade de amar incondicionalmente
  • O esforço para agir com ética em todas as situações

Aos poucos, cada um de nós aprende a usar as experiências concretas para desenvolver ainda mais sua inteligência e ampliar sua compreensão da vida.
O lema do movimento teosófico, fundado em 1875, é “não há religião superior à verdade” . Penso que é preciso ir além e reconhecer que “não há religião, filosofia, ciência, ideologia, política ou interesse pessoal acima da verdade”. Perante Jesus, Pilatos perguntou:
- Qual a verdade? O Mestre responde olhando para o céu, como quem falasse que a verdade é a Consciência Universal, e tudo o mais é relativo. O caminho ao Divino é o caminho da verdade.
Há um ensinamento da Gautama Buda que ensina a identificar o que é verdadeiro. Gautama disse que o contato real com a verdade nos leva ao desapego, não ao apego; ao abandono da busca cega de vantagens pessoais, e não à busca de satisfações egoístas; à simplicidade voluntária e não à cobiça; ao contentamento e não ao descontentamento; à independência, e não a viver mecanicamente como membro de um rebanho; e, finalmente, o contato com a verdade nos leva a ter mais energia, e não a ser preguiçosos.
Esta série de opções e alternativas mostra os dois tipos básicos de inteligência: a que serve à alma imortal e a que trabalha em função dos nossos interesses animais e da busca de segurança. A mente humana é um principio dual. Está dividida entre dois senhores: o eu superior e o eu inferior. O eu inferior não é o dono da casa, mas o caseiro, o zelador. O dono do prédio é o eu superior, que vive nos andares de cima e depende da lealdade do seu caseiro pra inspirar toda a vida da casa e conduzi-la pelo caminho do bem.
Sem dúvida, a história da humanidade é a historia do desenvolvimento da nossa inteligência. Rousseau escreveu em 1750 algo válido para o terceiro milênio:
“É um espetáculo grande e belo ver o homem sair à bem dizer do nada por seus próprios esforços; dissipar, pelas luzes da sua razão, as trevas em que o envolvera a natureza; elevar-se acima de si mesmo; alçar-se pelo espírito até as regiões celestes; percorrer a passos de gigante, assim como o Sol, a vasta extensão do universo; e, o que é ainda maior e mais difícil, penetrar em si mesmo para estudar o homem e conhecer sua natureza, seus deveres e sua meta”
São sábias também as palavras de Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo e conhecerás o universo”.
A longa tarefa atual da humanidade é viver o despertar de manas, a inteligência pura, que nada distorce em função de objetivos pessoais. Há milhares de anos, Jesus Cristo e Gautama Buda ensinaram o contato direto de cada um com o mundo divino, foram contrários às burocracias religiosas e seus primeiros seguidores foram perseguidos. Mais recentemente, desde Francis Bancon (1561-1626), criador do método cientifico experimental, os grandes sábios que orientam a humanidade têm apontado com ainda mais clareza o caminho não do dogma religioso e ritualístico, mas da percepção direta da realidade, pelo velho método que inclui as etapas da tentativa, do erro, da observação do erro e da correção, pelos menos parcial, do equívoco na tentativa seguinte, e assim sucessivamente. Nas últimas décadas, a vanguarda das ciências voltou a unir-se com a vanguarda do pensamento religioso e filosófico, como queria, no século 19, Helena Blavatsky.
No início do terceiro milênio , mais do que nunca, o objetivo não é enquadrar cegamente o cidadão dentro desta ou daquela crença, mas sim despertar nele aquela inteligência direta que o liberta das formas externas e o faz navegar no território ilimitado da sabedoria eterna, enquanto assume a direção da sua própria vida.
Um mestre de sabedoria escreveu um dia a um dos seus discípulos, aconselhando-o sobre o esforço espiritual que ele fazia:
“Nunca deixe que a serenidade de sua mente seja perturbada em suas horas de trabalho. É sobre a serena superfície da mente imperturbada que as visões captadas do mundo invisível encontram uma representação no mundo visível. É com intenso cuidado que temos de proteger nosso plano mental de todas as influências adversas que surgem diariamente em nossa passagem pela vida terrestre”.
Isso me leva a concluir, afinal que a suprema inteligência é exatamente a percepção da paz eterna. Já a burrice, ao contrário, consiste em fechar os olhos para a possibilidade de buscar e perceber a dinâmica da harmonia que é a eterna dança da vida dentro e fora de nós.
Notas:
Pontes, Márcio Resende
The Wisdom of Buddhism – Ed. Christmas Humphreys
Discurso sobre as Ciências e as Artes – J.J. Rousseau
O Poder da Sabedoria – Carlos Cardoso Aveline

http://www.psicenter.psc.br/

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