27 de jun. de 2016

A padronização impede a manifestação da liberdade


Pergunta: os grandes Instrutores do Passado estabeleceram regras de conduta, sistemas de ética. Existe um padrão eterno de ética e é a reta conduta o mesmo que a verdadeira criação? É ela uma expressão da Verdade, como a arte é uma expressão da beleza?

Krishnamurti: “Os grandes Instrutores do passado deram regras de conduta, sistema de ética...” Duvido. São geralmente os discípulos, que estabelecem o sistema, estatuem as regras de conduta. Esta é a minha opinião. Provavelmente, podeis discutir isto historicamente e refutá-lo, porém isso não me convencerá, porque os Instrutores realmente grandes não estabelecem leis; eles querem libertar os homens, e não podeis libertar-vos por sistemas de ética ou lei de conduta. É material puramente individual.

“Existe padrão de ética eterno, e é a reta conduta o mesmo que verdadeira criação?” Existe um padrão eterno para o homem que atingiu, e, no entanto não existe para ele padrão de ética, pois que é livre. Espero que entendais o que quero dizer. É de certo modo difícil explicar isto. Um padrão eterno em assuntos de ética não pode, em último turno, existir. Estes padrões são inventados pelo homem para a reta conduta do seu próximo, e nunca para ele mesmo. Não podeis dizer que existe um padrão eterno de ética, porque um padrão é uma medida pela qual se julga, pela qual se pode comparar. Quando houverdes atingido essa liberdade que é Verdade, sereis todas as coisas e toda coisa concebível estará em vós, pois que a Libertação é Vida, é a semente de toda a coisa. Para tal homem não existe padrão. Por favor, não me desentendais. Isto não quer dizer que possais fazer exatamente o que voz apraz. Não o podeis. O homem que luta para atingir o eterno deve ter um padrão pelo qual possa medir, e este padrão é compreensão do eterno, porém ninguém pode estabelecer uma lei para ele.

“E é a conduta reta o mesmo que a verdadeira criação?” De certo modo é, de outro não. Verdadeira criação é o momento de equilíbrio ao qual chegais por meio da harmonia entre a razão e o amor. Eu sustento que esta harmonia, é verdadeira criação. Precisais chegar a essa harmonia que é equilíbrio por meio da reta conduta, que é auto-disciplina, imposta por vós mesmo à luz do eterno; não a disciplina imposta por outrem por meio do medo, nem pela esperança de salvação, porém a auto-disciplina imposta por meio do entendimento, do preenchimento da vida.

Explicarei isto mediante símile e verificareis o que eu quero dizer: Quando uma águia pousa em um ramo, pronta a voar, quando está plena, ansiosa, plácida, incondicionada e estática, este momento em que a águia está prestes a voar, é verdadeira criação. Quer voe para a montanha ou desça até o vale, é coisa que não importa. Porém, para chegar a este equilíbrio, a águia adestrou-se a si mesma. Este adestramento é a reta conduta, essa reta conduta é auto-disciplina imposta por vós próprios, pelo fato de haverdes entendido o verdadeiro propósito da vida.

“É a conduta reta uma expressão da Verdade como a arte é uma expressão de beleza?” É. A verdadeira criação, é a expressão da Verdade, pois que a verdadeira criação é harmonia perfeita, que não pode ser perturbada, que é serena, plácida, forte e segura. Este equilíbrio é Verdade. Essa Vida que foi atingida por intermédio da perfeição e a incorruptibilidade do eu, é Verdade. Portanto, é a expressão da Verdade, como a arte é a expressão da beleza.

Krishnamurti, 5 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen


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